16/05/2014

8.048.(16maio2014.16.54') Líbia

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Líbia é um país que declarou a sua independência
da França e do Reino Unido
1951
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Porque não temos notícias
depois das "extraordinárias" intervenções da NATO.EUA???
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6dez2017
Via Miguel Tiago
PS, PSD e CDS votam contra este voto apresentado pelo PCP.
Assumem-se: quem autoriza bombas não chora os mortos.
VOTODE CONDENAÇÃO N.º 449/XIII/3.ª
Voto de condenação da agressão à Líbia, do tráfico de seres humanos e da escravatura
7 Dezembro 2017
A agressão militar à Líbia, liderada pela NATO e apoiada pela União Europeia, provocou a destruição do Estado, dos seus órgãos de Governo e de infraestruturas materiais, encaminhando o país para uma situação de desagregação, provocando a degradação geral das condições de vida e expondo a população a uma guerra de agressão que ainda hoje produz efeitos devastadores.

Alimentada e financiada a partir de países terceiros, com a intervenção dos Estados Unidos da América e seus aliados no apoio a grupos militares terroristas, a guerra lançou a Líbia numa situação de eliminação das mais elementares liberdades e direitos, de miséria e carência material, de crise humanitária crescente, com a existência de fluxos migratórios de milhões de homens, mulheres e crianças.

A situação, reconhecida pela ONU, em que se encontram milhares de migrantes sujeitos à exploração e ao tráfico de seres humanos e as recentes notícias sobre a situação dos refugiados que, fugindo da guerra e da destruição, caem nas malhas da escravatura e do tráfico, demonstram o resultado direto da agressão contra a Líbia promovida pela NATO e pela União Europeia.

Considerando a grave crise na Líbia e o incremento dos crimes de tráfico de seres humanos e tráfico de migrantes;

Considerando a necessidade de garantir a defesa dos direitos dos refugiados e de salvaguardar as suas vidas;

Considerando as responsabilidades da UE na crise e rejeitando a política de impedimento da chegada de migrantes e refugiados ao espaço da União Europeia, condenando à morte, ao tráfico e à escravatura milhares de homens, mulheres e crianças;

A Assembleia da República condena o tráfico de seres humanos, o tráfico de migrantes e a escravatura, consequências da agressão militar à Líbia, compromete-se com o combate ao crime organizado, nos termos da Resolução n.º 2380 do Conselho de Segurança da ONU, e exige da União Europeia o respeito pelos direitos dos refugiados, apelando ao cumprimento das obrigações dos Estados-membros no âmbito do acolhimento de refugiados.

Assembleia da República, 6 de dezembro de 2017
http://www.pcp.pt/voto-de-condenacao-da-agressao-libia-do-trafico-de-seres-humanos-da-escravatura
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Via Avante
7dez2017
Líbia é a «ponta do icebergue» da escravatura contemporânea

FLAGELO A denúncia de mercados de escravos na Líbia chamou a atenção para um flagelo que atinge mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo, encontrando-se, assim longe de ser episódico.
LUSA
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De acordo com um documento divulgado pela ONU a 2 de Dezembro, Dia Internacional para a Abolição da Escravatura, pelo menos 40,3 milhões de pessoas são sujeitas àquela condição infra-humana. Os dados avançados pelas Nações Unidas, aliás coincidentes com aqueles divulgados paralelamente pela Organização Internacional do Trabalho, são uma estimativa. A revelação do caso da venda de seres humanos na Líbia, onde entre 400 e 700 mil sub-saarianos se encontram aprisionados em mais de 40 campos de concentração (ver crónica nesta página) sugere que o flagelo pode ser bem maior do que se supõe.
Segundo a mesma fonte, quase 25 milhões de pessoas são escravas laborais e 15,4 foram forçadas ao matrimónio. As mulheres e as meninas são os principais alvos da escravatura, a maioria das quais vítimas de abuso sexual comercial.
Depois da agressão da NATO, da deposição das autoridades da Líbia lideradas por Muhamar Kadhafi e do assassinato deste por grupos milicianos que, desde então, dividem e disputam parcelas do país, o território passou a ser uma plataforma através da qual migrantes africanos, sobretudo, mas também asiáticos tentam chegar à Europa.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) alertou, por estes dias, que a rota do Mediterrâneo entre a Líbia e a Itália é «mais frequentada do que nunca». Pelo menos três mil pessoas morreram este ano na travessia.
As estatísticas fornecidas pela OIM mostram que o total de migrantes que chegaram à Europa em 2017 caiu para menos de metade face a 2016, mas a taxa de mortalidade no Mediterrâneo aumentou cerca de 28 por cento comparando os mesmos períodos.
http://www.avante.pt/pt/2297/internacional/147904/
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4ag2016
Líbia
Aviões militares dos Estados Unidos bombardearam, na segunda-feira, 1, posições do «Estado Islâmico» na cidade líbia de Sirte, anunciou The Washington Post. O ataque foi desencadeado a pedido das «autoridades» da Líbia e autorizado pelo presidente Barack Obama, explicou um porta-voz do Pentágono, Peter Cook. Outra fonte norte-americana previu novos ataques do género. Fayez al-Sarraj, primeiro-ministro de um dos governos do país, o de União Nacional, apoiado pelas Nações Unidas e pelos EUA, disse que o raide aéreo em Sirte, situada 450 quilómetros a Leste de Trípoli, causou «grandes baixas» entre os jihadistas.
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29set2016
  • Carlos Lopes Pereira 
  • A Líbia é hoje, após cinco anos de guerras, um país dividido, sem autoridade estatal central, com a economia destruída, alvo de ingerências e violações estrangeiras de toda a ordem
http://www.avante.pt/pt/2235/temas/142195/
Relatório sobre intervenção na Líbia em 2011
Cameron e Sarkozy mentiram

Um relatório do parlamento da Grã-Bretanha sobre a intervenção da NATO na Líbia, em 2011, acusa o antigo primeiro-ministro David Cameron de ter cometido «erros». As conclusões dos parlamentares britânicos, embora tardias, comprovam, no essencial, que a agressão militar dos Estados Unidos e aliados podia ter sido evitada e não foi motivada por razões «humanitárias» mas por interesses políticos e económicos. No documento, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy é também, e uma vez mais, posto em causa.

A Comissão dos Negócios Estrangeiros do parlamento britânico divulgou a 14 de Setembro um relatório sobre a intervenção da NATO na Líbia, em 2011, no qual o então primeiro-ministro David Cameron, conservador, é acusado de ter cometido graves erros políticos.

«Postulados erróneos» e «intervenção mal concebida», baseada em «discursos» e não em informações fiáveis, «uma intervenção destinada a proteger civis transformada numa política visando a mudança de regime na Líbia com meios militares», concluem os parlamentares de Westminster.

Foram necessários cinco anos para que a Grã-Bretanha admitisse publicamente o seu «erro», ou melhor, a mentira que serviu de pretexto e de cobertura à guerra de agressão contra a Líbia, com todos os crimes e as suas dramáticas consequências. O governo de Londres, lê-se no relatório, «não verificou a ameaça real que o regime de Khadafi representava para os civis, tomou à letra de forma selectiva alguns elementos da retórica» do líder líbio «e falhou a identificação de facções islamistas radicais no seio da rebelião».

Por outras palavras, os deputados ingleses avaliam agora que Londres não quis reconhecer o evidente exagero da «ameaça» que representava o governo líbio – uma «ameaça» inventada pela propaganda imperialista para justificar a agressão – e abriu a porta a bandos terroristas. E escrevem no relatório, em linguagem cínica e hipócrita, que «um compromisso político teria podido permitir proteger a população, mudar e reformar o regime a um custo menor».

Num artigo recente na edição on-line da revista Afrique Asie, Christine Abdelkrim-Delanne relembra como foi a agressão militar das potências ocidentais contra a Líbia, na altura um dos estados africanos mais desenvolvidos. Hoje, após cinco anos de guerras, é um país dividido, sem autoridade estatal central, com a economia destruída, alvo de ingerências e violações estrangeiras de toda a ordem.

A 19 de Março de 2011, a Nato e seus aliados, reagrupando à cabeça as forças navais norte-americana (operação Odyssey Dawn) e britânica (operação Ellamy) e as forças aéreas francesa (operação Harmattan), britânica e canadiana (operação Mobile), interveio militarmente na Líbia, violando abertamente as resoluções das Nações Unidas.

Participaram também nos ataques forças da Dinamarca, Bélgica, Itália, Noruega, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Espanha e Turquia, entre outros países.

Os EUA de Barack Obama e de Hillary Clinton, a França de Sarkozy e a Grã-Bretanha de Cameron dirigiram as operações nos primeiros dias mas, logo a 23 de Março, a NATO passou a assegurar o comando (operação Unified Protector).

Após o derrube e assassinato de Khadafi, a guerra contra a Líbia «terminou» a 31 de Outubro, causando a morte de dezenas de milhares de civis e provocando uma situação de caos indescritível de que o país ainda não conseguiu libertar-se.

E, 14 meses mais tarde, a França de François Hollande enviava tropas para o Mali (onde permanecem), para combater os mesmos grupos jihadistas cuja intervenção do Ocidente na Líbia fez emergir…

A jornalista Christine Abdelkrim-Delanne faz bem em recordar que David Cameron – que, entretanto, após o referendo sobre o Brexit, abandonou o governo e a liderança do Partido Conservador – não foi o único responsável por este dito «erro» pesado de consequências. No início de 2016 Obama declarou numa entrevista que «este episódio líbio foi o pior erro do meu mandato». Não por arrependimento, esclareceu, mas por não ter acautelado o pós-guerra.

Sabemos bem que a agressão à Líbia não foi um «erro» mas antes uma agressão a um Estado soberano e laico que afirmava a sua soberania e independência nacional, uma política pan-africana e diversificadas relações externas face aos interesses do imperialismo. O objectivo da agressão foi a destruição do Estado líbio e o saque das imensas riquezas do seu povo, das dezenas de milhares de milhões de dólares do seu fundo soberano, do petróleo e do gás. 

Interesses de Sarkozy 

Além de Cameron e Obama, deste «erro» ou «episódio» da Líbia é também responsável Nicolas Sarkozy, o então presidente da República de França e agora uma vez mais empenhado na corrida ao Eliseu, com um discurso ainda mais à direita, nas eleições de 2017.

O papel e as responsabilidades de Sarkozy e mais alguns dirigentes franceses na agressão à Líbia são abordados num outro artigo, este da revista Jeune Afrique, da autoria de Laure Broulard.

Ela conta que o relatório parlamentar britânico publicado em meados deste mês relembra os argumentos de Alain Juppé, ministro francês dos Negócios Estrangeiros em 2011, quando apresentou o projecto de intervenção militar na Líbia perante o Conselho de Segurança da ONU. Insistia Juppé na urgência humanitária, garantindo que a situação no terreno era «alarmante» e que restava pouco tempo para intervir, «talvez uma questão de horas», urgência que os deputados britânicos consideraram ter sido «largamente exagerada».

A comissão parlamentar denunciou, sem rodeios, as razões que levaram Paris a apoiar com tanto vigor a intervenção contra Kadhafi como sendo sobretudo «de ordem do interesse nacional francês ou do interesse pessoal de Nicolas Sarkozy».

Citando conversas entre governantes (incluindo Hillary Clinton) e diplomatas norte-americanos e franceses, filtradas em 2015 (daí a sanha das autoridades de Washington e Londres contra sítios web como a WikiLeacks e contra jornalistas como Julian Assange…), o relatório enumera as verdadeiras razões do apoio da França à agressão militar: uma vontade de obter uma parte maior do petróleo produzido na Líbia; de aumentar a influência francesa na África do Norte; de melhorar a imagem de Nicolas Sarkozy em França; de responder aos projectos de Kadhafi de suplantar a França na África francófona; e de «dar às forças armadas francesas uma oportunidade de reafirmar a sua posição no cenário mundial».

Para a Afrique Asie, como para muitas outras publicações que escapam ao sistema mediático hegemónico, fica claro, como foi repetidamente denunciado ao longo destes anos, que, na Líbia, com a agressão militar, o objectivo das potências ocidentais foi sempre o de liquidar Kadhafi e o seu governo. Um crime passível de ser julgado por um tribunal internacional…

Esta tese, de julgar os responsáveis pela catástrofe líbia, é defendida também, na mesma revista, por um jurista francês, Gilles Devers. Escreve ele que «é justo desejar que as populações líbias se organizem» e apresentem queixa perante o Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia, contra Sarkozy, Cameron e outros envolvidos. E questiona: «A França e a Grã-Bretanha ratificaram o tratado [que criou o TPI], pelo que os seus agentes devem assumir as suas responsabilidades quando se envolvem num conflito armado internacional. A lei é igual para todos, não?». 

Guerra e petróleo 

A destruição da Líbia em 2011, pelos EUA, Grã-Bretanha, França e outros aliados, não foi apenas militar, ela atingiu fortemente a economia, a organização social e o próprio Estado. Estado construído por Khadafi, desde que chegou ao poder, em 1969, quando derrubou a reaccionária monarquia pró-ocidental do rei Idris e fundou a República.

O jornalista Achille Lollo, colaborador de jornais e televisões italianas e correspondente do Correio da Cidadania, no Brasil, defende nessa publicação que «a destruição da Jamahiriya (palavra que pode ser traduzida como Estado Popular) líbia provocou o fim dos entendimentos e das relações que durante anos haviam permitido o funcionamento centralizado de um Estado, com quase 35 tribos, étnica e culturalmente diferentes, e quase um milhar de clãs familiares».

Com a queda do governo de Kadhafi, quebrou-se a unidade nacional e agravaram-se divisões étnicas, muitas vezes fomentadas e instigadas, surgindo centenas de milícias armadas com base em tribos ou alianças tribais.

Para Lollo, com a agressão e as ingerências estrangeiras que se seguiram, «estas divisões transformaram-se, rapidamente, numa guerra civil em função da necessidade de controlar as refinarias de petróleo, os terminais marítimos de carga, os oleodutos, os gasodutos ou os campos de extracção e depois negociar com as multinacionais». De facto, após a purga de toda a estrutura dirigente da Jamahiriya derrubada, «as multinacionais europeias e estado-unidenses começaram a prometer a compra de hidrocarbonetos somente a quem conseguia garantir o recomeço da produção e, portanto, das exportações».

Desta forma, as milícias multiplicaram-se, «alimentando cada vez mais uma guerra civil que transformou a Líbia em um não-Estado», uma situação que destruiu a economia e as infra-estruturas existentes. Por isso, testemunha o jornalista italiano, «hoje na Líbia há muitas cidades sem energia eléctrica; a distribuição da água potável é precária e na maioria dos casos é garantida por carros-tanques que os próprios moradores pagam para garantir o seu abastecimento; os hospitais e o sistema de correio quase não existem mais; as redes comerciais que vendiam os produtos alimentares ficaram reduzidas a 10 por cento; e as fábricas foram todas destruídas».

Foi nesse contexto que os fundamentalistas do «Estado Islâmico» (EI) inventaram a criação do Emirado Islâmico de Sirte; que em Benghazi se consolidou o poder do general Khalifa Haftar, apoiado pelo Egipto e Arábia Saudita e defensor do governo/parlamento de Tobruk; e que em Março passado o chefe do chamado Governo de Unidade Nacional (GUN), Fayez al-Serraj, chegou à capital, Trípoli, procedente da Tunísia, num navio de guerra, ficando enclausurado com o seu governo numa base naval.

Em Junho, al-Sarraj teceu uma aliança com as milícias islâmicas de Misrata, ligadas à Irmandade Muçulmana, que controlam o porto daquela cidade. Conta Achille Lollo: «Apresentando uma aparente estabilidade na capital, Trípoli, al-Serraj pediu às Nações Unidas que autorizassem os Estados Unidos a atacar as posições do EI na região do Sirte. Na realidade, a guerra contra o EI é outra tentativa para recolocar os Estados Unidos, a França e a Inglaterra na Líbia, com a medalha de libertadores». Uma operação que visa permitir viabilizar os acordos que as multinacionais estão a negociar com as várias facções para normalizar a produção e exportação do petróleo líbio – que é, verdadeiramente, o que lhes interessa.

As mais recentes notícias da Líbia, já desta semana, provenientes de Nova Iorque, onde Fayez al-Serraj foi entrevistado pela Reuters, dão conta de que a batalha por Sirte prossegue, apesar do apoio que as forças do GUN têm da aviação norte-americana, que bombardeia diariamente o EI.

Nessa entrevista, o chefe do governo de Trípoli faz um apelo à reconciliação nacional e afirma que é necessário unir a Líbia e impedir a sua divisão e fragmentação. Dirige-se em especial ao general Khalifa Haftar, que, com o seu Exército Nacional Líbio, conquistou e ocupou nas últimas semanas os principais portos e terminais exportadores do «crescente petrolífero» líbio. Al-Serraj promete, nas próximas semanas, um novo governo, resultante das negociações em curso, sob a égide da ONU e dos EUA, entre as «autoridades» do Oeste, em Trípoli, e do Leste, em Tobruk.

Em suma: as mesmas forças imperialistas que promoveram a guerra e destruíram em 2011 o Estado da Líbia e arruinaram a sua economia, mostram-se agora «preocupados» e dispostos a «trabalhar», com os bandos e as marionetas que criaram e suportam, pela paz e unidade nacional!

Mais tarde ou mais cedo, apesar da tragédia que vive, o povo líbio saberá organizar-se para lutar contra a dominação estrangeira e a pilhagem das suas riquezas. E trilhará os verdadeiros caminhos da paz, do reforço da unidade da nação, da reconstrução do seu Estado soberano, da independência nacional, do desenvolvimento do país com base no aproveitamento dos seus recursos naturais.
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3mar2016
http://www.avante.pt/pt/2205/internacional/139381/
Agrava-se na Líbia
a «guerra secreta»
As potências ocidentais estão a levar a cabo acções armadas «secretas» na Líbia, agravando ainda mais a caótica situação política e militar naquele país norte-africano.

O actual caos líbio foi desencadeado em 2011 pela agressão militar da NATO contra um dos estados então mais desenvolvidos da África, agressão que provocou a queda do regime, o assassinato do seu líder, Muammar Kadhafi, milhares de mortos e feridos, a destruição de infra-estruturas, divisões fratricidas, a guerra civil que perdura, o surgimento de bandos armados que espalham o terror e a insegurança na região e, como a Europa bem sabe, a emergência de vagas de refugiados.

Agora, os governos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Itália surgem outra vez envolvidos na preparação de uma intervenção bélica na Líbia, a pretexto de combater o denominado Estado Islâmico (EI).

Em finais de Janeiro, o presidente Barack Obama ordenou à sua «equipa de segurança nacional» a adopção de medidas para conter a expansão do EI na Líbia. Calcula-se que, nos últimos meses, muitos jihadistas, derrotados na Síria pelas tropas governamentais apoiadas pela força aérea da Rússia, se tenham refugiado na Líbia. Ali, o grupo controla a cidade de Sirte, 450 quilómetros a Leste de Trípoli, e uma faixa costeira mediterrânica, ameaçando zonas petrolíferas exploradas por companhias ocidentais e seus aliados locais.

A 19 de Fevereiro, a força aérea norte-americana bombardeou instalações dos jihadistas perto de Sabrata, a 70 quilómetros da capital, matando mais de 40 membros do EI, a maior parte deles tunisinos implicados nos recentes ataques terroristas em Tunes. O Wall Street Journal escreveu, citando um responsável estado-unidense, que o governo de Roma permitiu que aviões dos EUA utilizassem uma base militar italiana para essa missão.

A ministra italiana da Defesa, Roberta Pinotti, desmentiu a autorização mas confirmou que a Itália está «a trabalhar com os seus aliados na luta contra o terrorismo». E, numa entrevista ao Corriere Della Sera, considerou «inevitável» uma intervenção militar internacional na Líbia «até à próxima Primavera».

Também o Le Monde informou que forças especiais francesas lançaram operações secretas contra os jihadistas em território líbio, em coordenação com os EUA e a Grã-Bretanha. Aquilo a que o jornal parisiense chama «a guerra secreta de França na Líbia» inclui raides aéreos, preparados secretamente no terreno, contra líderes do grupo extremista.

Há outros testemunhos recentes na imprensa mundial sobre esta «guerra secreta» na Líbia.

Mattia Toaldo, investigador do Conselho Europeu de Relações Internacionais, afirma que «no plano informal» a intervenção militar «já está em curso». Citado pela revista Jeune Afrique, esta semana, explica: «As forças da OTAN efectuam desde há muito voos de reconhecimento. Em Novembro de 2015, o iraquiano Abou Nabil, chefe do EI na Líbia, foi morto por um ataque americano. Em Dezembro, os membros dum comando americano foram obrigados a deixar a Líbia, depois de uma fotografia sua ter sido publicada no Facebook. Outras forças especiais, italianas, francesas e britânicas estariam no terreno. Este tipo de intervenção não declarada é mais prático porque evita ter de passar pelo exame dos parlamentos e das opiniões públicas».

Em busca da unidade

No plano político, a confusão na Líbia é grande e tanto a União Africana como as Nações Unidas procuram encontrar uma solução que permita ao povo líbio reencontrar os caminhos da paz, da unidade nacional e da independência.

Há dois parlamentos rivais: a Câmara dos Representantes, instalada em Tobrouk, no Leste, reconhecida pelas potências ocidentais; e o Congresso Geral Nacional, com sede em Trípoli, cidade controlada por uma coligação de milícias dominada pelos islamistas moderados da Fajr Libya (Aurora Líbia). Foi também criado recentemente, em Marrocos, sob a égide da ONU, um Conselho Presidencial, visando um governo único, mas como escrevia há dias o jornal espanhol El País, o organismo reúne-se em Marrocos ou na Tunísia e tem tão pouca autoridade que nenhum dos seus nove membros pode pôr os pés na Líbia…

A boa notícia é que Martin Kobler, enviado das Nações Unidas e chefe da Manul, a missão da ONU na Líbia, avistou-se na semana passada com o representante da União Africana para aquele país, o ex-presidente tanzaniano Jakaya Kikwete. As duas organizações vão continuar a empenhar-se para encontrar uma solução pacífica para a Líbia, que tem de passar pelo fim das ingerências externas.
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23dez2014
Centenas de mortos nos últimos meses na Líbia
http://www.noticiasaominuto.com/mundo/325564/centenas-de-mortos-nos-ultimos-meses-na-libia

ONU Centenas de mortos nos últimos meses na Líbia

Centenas de civis líbios foram mortos nos últimos meses em confrontos entre grupos armados rivais, que incluem as forças pró-governamentais, anunciou hoje a ONU, referindo que alguns dos abusos poderão ser considerados "crimes de guerra".
"Desde meados de maio, os combates aumentaram e as violações persistem com impunidade", declarou a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Ravina Shamdasani, precisando que "alguns desses crimes podem constituir crimes de guerra".
Na região de Warshafana, próxima de Tripoli, os combates entre grupos armados mataram cerca de 100 pessoas e feriram 500 outras entre o final de agosto e o início de outubro, segundo um relatório do ACNUDH e da missão da ONU na Líbia (UNSMIL) divulgado em Genebra.
Os combates causaram uma "crise humanitária", segundo a organização, com pelo menos 120.000 deslocados e escassez de alimentos e medicamentos.
A ONU acusou ainda todas as partes de atacarem escolas.
Noutros combates nas montanhas de Nafusa, perto de Warshafana, morreram 170 civis e pelo menos 450 pessoas foram mortas em Benghazi nos últimos dois meses em confrontos, que causaram perto de 90.000 deslocados.
As Nações Unidas também relatam casos de rapto, tortura e execuções sumárias.
Os grupos armados escolhem como alvo sobretudo militantes políticos e dos direitos humanos, assim como jornalistas, alguns dos quais foram raptados, ameaçados ou viram as suas casas pilhadas ou queimadas, adianta o relatório.
O Alto Comissário para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, advertiu que um comandante de um grupo armado é "penalmente responsável de acordo com o direito internacional" se comete ou ordena que sejam cometidas violações graves dos direitos humanos ou não toma as medidas necessárias para impedir ou punir tais atos.
A Líbia mergulhou no caos depois da queda do ditador Muammar Kadhafi após oito meses de guerra civil em 2011.
Entregue a milícias, o país tem dois parlamentos e dois governos -- um próximo dos islamitas e outro reconhecido pela comunidade internacional -- que disputam o poder.
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via avante
7ag2014
MARINES DO AFRICOM – de Móron a Trípoli
. por Carlos Lopes Vieira
Os Estados Unidos reforçaram a unidade de intervenção rápida estacionada na base de Morón de la Frontera (Sevilha), em Espanha. A pretexto do agravamento da situação na Líbia, o Africom – comando militar norte-americano para África – aumentou de 500 para 850 os soldados do seu contingente na Andaluzia.

A 27 de Julho, 200 marines do dispositivo de Morón, transportados previamente para a base aeronaval de Sigonella, na Sicília, e dali para Trípoli, deram cobertura à evacuação, por estrada, para Tunes, de 150 diplomatas e funcionários da embaixada dos EUA na capital líbia. O comboio foi protegido, do ar, por caças-bombardeiros F-16 e aeronaves MV-22 Osprey (uma mescla de avião e helicóptero), pertencentes à força de reacção rápida do Africom.

Esta unidade especial foi criada pouco depois de, em Setembro de 2012, milicianos islâmicos terem invadido o consulado norte-americano em Bengasi e abatido o embaixador norte-americano, Christopher Stevens, e três agentes de segurança.

Segundo o jornal El Mundo, de Madrid, a acção da força de intervenção rápida do Africom, na Líbia, em Julho, foi a quinta realizada no continente africano no último ano e meio. Duas delas, das mais importantes, ocorreram na República Centro-Africana e no Sudão do Sul.

O exemplo da retirada do pessoal diplomático norte-americano da Líbia, fugindo dos combates em Trípoli e Bengasi, foi seguido por outras representações ocidentais, que têm reduzido ao mínimo o corpo diplomático e aconselhado os respectivos cidadãos a deixar o país. As Nações Unidas diminuíram igualmente a sua presença, assim como as Filipinas e a Índia, que dispunham de milhares de médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar a trabalhar em hospitais. Grandes companhias petrolíferas, como a francesa Total, a italiana ENI e a espanhola Repsol, evacuaram também os seus técnicos.

Além de diplomatas e especialistas estrangeiros, milhares de cidadãos líbios e de expatriados estão a tentar chegar por estrada à vizinha Tunísia. Em Ras el-Jdir, o principal posto fronteiriço entre os dois países norte-africanos, havia no início desta semana cerca de 10 mil pessoas à espera de atravessar a fronteira.
Estratégia de dominação
Nas últimas semanas, a situação na Líbia deteriorou-se nos planos militar, político e económico. Generalizou-se a violência incontrolada, perante a impotência das «autoridades» que já não controlam a maior parte do território do Estado em desagregação. No Sul, transformado num paiol a céu aberto, bandos de «jihadistas» – em geral criados e financiados por serviços secretos ocidentais – utilizam o território para provocar e desestabilizar países da região como a Argélia e o Mali.
Em Trípoli e na segunda cidade, Bengasi, no Leste, prosseguem combates entre facções inimigas, com recurso a armas pesadas. Desde meados de Julho, contabilizam-se centenas de mortos e feridos. Em resultado de um obus «perdido» nos confrontos entre milícias rivais pela conquista do aeroporto internacional da capital – cujas infra-estruturas estão quase totalmente destruídas –, lavra sem fim à vista um gigantesco incêndio numa área de reservatórios de petróleo e gás. Os prejuízos materiais são incalculáveis.
O novo parlamento líbio, saído das eleições de 25 de Junho, reuniu-se pela primeira vez, em Tobruk, a mais de mil quilómetros de Trípoli, junto à fronteira com o Egipto. Apesar dos apelos à unidade, ficou patente a divisão entre deputados «nacionalistas», agora em maioria, e «islamistas», que aliás boicotaram a sessão e convocaram uma outra reunião para a capital…
Neste quadro de guerra civil, afunda-se a economia daquele que ainda há pouco era um dos países mais ricos e desenvolvidos de África.
Antes da agressão militar da NATO, em 2011, que levou ao derrube do regime liderado por Muhamar Kadhafi e ao seu assassinato, a Líbia produzia um milhão e meio de barris de petróleo diários para exportação – era o primeiro exportador africano. Nestes três anos, a produção chegou a baixar para menos de 150 mil barris por dia, embora agora, depois dos acordos com as milícias que bloqueavam os principais portos, ela tenha duplicado e esteja a crescer.
O actual caos líbio não é fruto do acaso. É antes consequência da permanente ingerência belicista do imperialismo norte-americano visando a exploração dos trabalhadores, a submissão dos povos, a pilhagem das suas riquezas.
Estratégia de dominação imperial que, é evidente, não se limita à África, como o confirmam, nestes dias – do Afeganistão ao Iraque, da Síria à Palestina mártir – as bárbaras agressões dos Estados Unidos e seus aliados, ameaçando uma vez mais a paz mundial.
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15maio2014
Líbia à deriva
O Congresso Geral Nacional (CGN) líbio elegeu, dia 4, um novo chefe de governo. A votação no «parlamento» foi tumultuosa e só à segunda volta Miitig Ahmed acabou designado, mas alguns deputados continuam a argumentar que a votação de recurso não podia ter sido efectuada quando a sessão já estava encerrada. O empresário, de 42 anos, é o quinto primeiro-ministro designado pelas autoridades que tomaram o poder após o derrube de Muahmar Kadhafi, em 2011.
A eleição de Miitig ficou ainda marcada pela violência. Dia 29 de Abril, o CGN foi mesmo sitiado por grupos armados, justamente quando se preparava para sufragar a substituição de Abdallah al-Thani, eleito cerca de uma semana antes, mas que apresentou a demissão alegando falta de condições de segurança para exercer o cargo, noticiou a AFP.