16/11/2012

6.090.(16nov2012.8.8') josÉ saraMAGO

Nasceu a 16nov1922
e morreu a 18jun2010
***
5jan20/20...
postagem de 5jan2012
O que há é um adormecimento a todos os níveis da sociedade.
Este sistema adormeceu-nos.
E agora ri-se simplesmente de nós.
(via Ana F)
***
3ouTUbro2019
fui encontrar esta postAGEm minha de 3 ouTUbro2011
Liberdade utópica
Nós vivemos num mundo que Marx não conheceu, vivemos num mundo vigiado, somos vigiados. Acabou-se a privacidade. Se a vida privada, de alguma forma, acabou, a consciência privada, para usar o mesmo termo, sofreu um atentado similar. A liberdade, e agora falo da liberdade de consciência, por vezes arrisca-se a converter-se em algo utópico, com muito pouco conteúdo.Revista Número, Bogotá, nº 44, Março-Maio de 2005In José Saramago nas Suas Palavras
https://caderno.josesaramago.org/2011/09/
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18jun2019
Maria do Carmo Vieira
pintou:
 A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e closeup
 https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10211022864366842&set=a.3447227798735&type=3&theater
***
8ouTUbro2018
(colocar aqui o que postei no face...)
20 anos após se saber do Nobel
*
em 1994 ele pensava que nunca receberia o nobel...
Quando soube anunciou que: "Não precisei de deixar de ser comunista para conseguir o Nobel"
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13jan2020...lembro a postagem de 13jan2014

9-9' da noite...bELO miNUto para rELEVAR o cAMARada josÉ saraMAGO
ESTUDO DE NU
Essa linha que nasce nos teus ombros,
Que se prolonga em braço, depois mão,
Esses círculos tangentes, geminados,
Cujo centro em cones se resolve,
Agudamente erguidos para os lábios
Que dos teus se desprenderam, ansiosos.
Essas duas parábolas que te apertam
No quebrar onduloso da cintura,
As calipígias ciclóides sobrepostas
Ao risco das colunas invertidas:
Tépidas coxas de linhas envolventes,
Contornada espiral que não se extingue.
Essa curva quase nada que desenha
No teu ventre um arco repousado,
Esse triângulo de treva cintilante,
Caminho e selo da porta do teu corpo,
Onde o estudo de nu que vou fazendo
Se transforma no quadro terminado.
https://www.facebook.com/TheDancingWords2013/photos/a.559507790751606.1073741828.559343457434706/628638817171836/?type=3&theater
“O certo e o errado são apenas modos diferentes de entender a nossa relação com os outros... 
Não a que temos com nós próprios…”
Fotografia - © Metin Demiralay

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30dez2013 postei:
 pitadinhas do cAMARada josÉ saraMAGO fazem mbem para começar bem a sEMANA
"Triunfar significa ter e ter mais, abandonando algo que foi importante, aquilo a que chamamos ser mais conscientes, mais solidários, mais unidos aos sentimentos."
e via Sofia Borges:
 "As palavras proferidas pelo coração não têm língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler."
 https://www.facebook.com/photo.php?fbid=568128743274011&set=a.470347533052133&type=3&theater
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20dez2013...postei:
Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter,
ter deve ser a pior maneira de gostar.
(via Ana N)
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2013...6seTEMbro
 pitadinhas do cAMARarada josÉ saraMAGO
“Se toda a gente boa, se toda a gente amante da beleza, se toda a gente amante do justo e do honesto pudesse reunir esforços e opor-se contra a barbárie do mundo, o mundo seria capaz de dignificar o Homem, o Ser Humano que somos. O mundo talvez pudesse ter um futuro.”
 "A Pilar que ainda não tinha nascido e tanto tardou a chegar."
"Se tivesse morrido aos 63, antes de a conhecer, morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora."

 https://www.facebook.com/234845926606634/photos/a.234859933271900/492184180872806/?type=3&theater
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2012...6seTEMbro
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 +1a pitadinha de josÉ saraMAGO
(...) Fora da nossa cabeça não há nada.
_
 "Acho que damos pouca atenção àquilo que efectivamente decide tudo na nossa vida, ao órgão que levamos dentro da cabeça: o cérebro. Tudo quanto estamos por aqui a dizer é um produto dos
poderes ou das capacidades do cérebro: a linguagem, o vocabulário mais ou menos extenso, mais ou menos rico, mais ou menos expressivo, as crenças, os amores, os ódios, Deus e o diabo, tudo está dentro da nossa cabeça. Fora da nossa cabeça não há nada."

 https://www.facebook.com/234845926606634/photos/a.234859933271900/286377864786773/?type=3&theater
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 +1a pitadinha de josÉ saraMAGO
 "Eu não sou um exemplo do que é viver neste mundo. Sou um privilegiado. Mas não posso estar contente. O mundo é o inferno. Não vale a pena ameaçarem-nos com outro inferno porque já estamos nele. A questão é saber como é que saímos dele."
 https://www.facebook.com/234845926606634/photos/a.234859933271900/287051864719373/?type=3&theater
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 +1a pitadinha de saraMAGO
 "Um partido de pobres nunca ganharia uma eleição, porque os pobres não têm nada para prometer. Quem faz promessas são os ricos, ou, mais exactamente, é o poder."
 https://www.facebook.com/234845926606634/photos/a.234859933271900/294391513985408/?type=3&theater
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 1a pitadinha de josÉ saraMAGO
 "Não há nenhum caminho tranquilizador à nossa espera. Se o queremos, teremos de construí-lo com as nossas mãos."
 https://www.facebook.com/234845926606634/photos/a.234859933271900/294793287278564/?type=3&theater
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 CAVAR FUNDO a nossa parcELA...1a pitadinha de saraMAGO
"Cada homem tem a sua parcela de terra para cultivar. O que é importante é que cave fundo."
 https://www.facebook.com/234845926606634/photos/a.234859933271900/294808363943723/?type=3&theater
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2011...6seTEMbro
 pitadinhas do cAMARarada josÉ saraMAGO
“Se toda a gente boa, se toda a gente amante da beleza, se toda a gente amante do justo e do honesto pudesse reunir esforços e opor-se contra a barbárie do mundo, o mundo seria capaz de dignificar o Homem, o Ser Humano que somos. O mundo talvez pudesse ter um futuro.”
 https://www.facebook.com/234845926606634/photos/a.234859933271900.55198.234845926606634/492184180872806/?type=3&theater
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"Como já deveríamos saber,
a representação mais exacta,
mais precisa,
da alma humana
é o labirinto.
Com ela tudo é possível."
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"Sempre chegamos ao sítio
aonde nos esperam."

 https://www.facebook.com/OTempoDasPalavras/photos/a.455032984574985.1073741828.455018664576417/511641525580797/?type=3&theater
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https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10208688323440061&set=a.3570654199601.116701.1670376265&type=3&theater
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Via Gisela Mendonça
"Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo."
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10210378517772840&set=a.2912669309367.132818.1639690204&type=3&theater
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"perder tempo a explicar por que gosta seria pouco menos que inútil, há coisas na vida que se definem por si mesmas, um certo homem, uma certa mulher, uma certa palavra, um certo momento, bastaria que assim o tivéssemos enunciado para que toda a gente percebesse de que se tratava, mas outras coisas há, e que até poderão ser o mesmo homem e a mesma mulher, a mesma palavra e o mesmo momento, que, olhadas de um ângulo diferente, a uma luz diferente, passam a determinar dúvidas e perplexidades, sinais inquietos, uma insólita palpitação..."
in "A Caverna"
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Saramago - Caverna de Platão e as imagens
uma extª entrevista
https://www.facebook.com/photo.php?v=704177619617457
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fotogravAÇÃO de Manuel Honório
em Azinhaga, terra natal do escritor
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 " Gostaria de dizer que as minhas origens camponesas determinaram as minhas ideias políticas, mas isso, já o sabemos, não é uma condição necessária nem suficiente. Seja como for compreendi que um mundo assente na desigualdade de oportunidades e na exploração de um ser humano por outro, jamais será um mundo justo. Compreendi muito cedo que é um erro pedir "mais justiça social" o que há que exigir é "justiça social".
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“É que vocês não sabem, não o podem saber, o que é ter olhos num mundo de cegos.”

© Christian Schloe - Imagem
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A Fatalidade do Não

A palavra de que eu gosto mais é não. 

Chega sempre um momento na nossa vida em que é necessário dizer não.

O não é a única coisa efectivamente transformadora, que nega o status quo. 

Aquilo que é tende sempre a instalar-se, a beneficiar injustamente de um estatuto de autoridade. 

É o momento em que é necessário dizer não. 

A fatalidade do não - ou a nossa própria fatalidade - é que não há nenhum não que não se converta em sim. 

Ele é absorvido e temos que viver mais um tempo com o sim.


in 'Folha de S. Paulo (1991)'

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=701007810044579&set=a.206527549492610.69861.100004060997917&type=1&theater
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“O acto de observar é a única chave que abre a porta dos mistérios.”
© Marcelo Buainain - Imagem
https://www.facebook.com/photo.phpfbid=695997693769281&set=a.559507790751606.1073741828.559343457434706&type=1&theater
***
20jun2010
postei no face:
No silêncio dos olhos..+1do... É...Mago...

Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?
in "Os poemas possíveis",
***
“A vida, esta vida que inapelavelmente, pétala a pétala, vai desfolhando o tempo, parece, nestes meus dias, ter parado no bem-me-quer…”

© Mandy Disher - Imagem
https://www.facebook.com/559343457434706/photos/a.559507790751606.1073741828.559343457434706/848889588480090/?type=1&theater
***
(...) Felizes os que aproveitam
com sabedoria a preciosa
aventura que é o existir.
Feliz o olhar capaz
de discernir a beleza
do invisível...

https://www.facebook.com/rogerio.raimundo/posts/10200922289730940?theater
https://www.facebook.com/234845926606634/photos/a.234859933271900.55198.234845926606634/464335736990984/?type=1&theater
NA ILHA POR VEZES DESABITADA

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.


***
8seTEMbro2011
pitadinhas do cAMARarada josÉ saraMAGO
"Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma maneira bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratularmo-nos ou para pedir perdão, aliás, há quem diga que é isto a imortalidade de que tanto se fala."
https://www.facebook.com/234845926606634/photos/a.234859933271900.55198.234845926606634/491809527576938/?type=3&theater
***
16noVEMbro2010
 "Talvez isto é que seja o destino, sabermos o que vai acontecer, sabermos que não há nada que o possa evitar, e ficarmos quietos, olhando, como puros observadores do espectáculo do mundo."
In O Ano da Morte de Ricardo Reis, Ed. Caminho, 14.ª ed., p. 396
***
18jun2010
rELEVEI:
josÉ saraMAGO
“Não digamos, Amanhã farei, porque o mais certo é estarmos cansados amanhã, digamos antes, Depois de amanhã, sempre teremos um dia de intervalo para mudar de opinião e projecto, porém ainda mais prudente seria dizer, um dia deciderei quando será o dia de dizer depois de amanhã, e talvez um dia preciso,
*

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara (Livro dos Conselhos)

http://maradodasideias.blogspot.pt/2010/06/se-podes-olhar-ve-se-podes-ver-repara.html
*
a MAIOR FLOR DO MUNDO
https://www.youtube.com/watch?v=MNavjsXc12c
*
1.ª PARTE 

Prémio Nobel da Literatura 1998 

https://www.youtube.com/watch?v=lWpM5A5lBMI
*
2.ª pARTE
https://www.youtube.com/watch?v=abzJxu_GbKA
***
https://www.facebook.com/InstitutoDasPessoasSingulares/photos/a.589895327698752.1073741828.589889311032687/963099540378327/?type=1&theater
As palavras proferidas pelo coração não tem língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler.
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https://www.facebook.com/MinhaTerraMeuChao/photos/a.1393838497496687.1073741828.1393828550831015/1657168821163652/?type=1&theater
"Porque as pessoas são anjos nascidos sem asas, e o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer" 
***
https://www.facebook.com/349094905211303/photos/a.349115855209208.1073741828.349094905211303/632527706868020/?type=1&theater
Foi milagre? Ideia louca.
Mas que mais posso dizer
Desta profunda alegria
De ver a alma aparecer
No riso da tua boca?

Ainda se fosse a tua,
Entendia,
Mas a minha que faz lá?
Parece um caso da lua
(Tais coisas não são de cá)
Andar-me a alma contigo:
Foi milagre. Bem o digo.


do livro "Provavelmente Alegria"
Arte - Ebn Misr

***
a actualíssima frase de gaRRett (no início do Levantado do Chão):
E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o nº de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infância, a ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir 1 rico?
..
sobre o Levantado no chão:
"...levantar o peso que nos esmaga, que nos domina... no fundo, levantam-se os homens do chão, levantam-se as searas, é no chão que semeamos, é nos chão que nascem as árvores e até do chão se pode levantar um livro."
..
A Fundação José Saramago vai puxando para cima, diariamente:
(...)talvez se possa chegar a um dia, e esta é a utopia máxima, em que o ser humano respeite o ser humano. Para chegar a isso se escreveu o Ensaio sobre a Cegueira, para perguntar a mim mesmo e aos leitores se podemos continuar a viver como estamos vivendo e se não há uma forma mais humana de viver que não seja a da crueldade, da tortura e da humilhação, que são o pão desgraçado de cada dia.

..
"Toda a minha obra pode ser entendida como uma reflexão sobre o erro. Sim, sobre o erro como verdade instalada e por isso suspeitosa, sobre o erro como deturpação intencional de factos, sobre o erro como ilusão dos sentidos e da mente, mas também sobre o erro como ponto necessário para chegar ao conhecimento."
recomendo: http://caderno.josesaramago.org/
***
https://www.facebook.com/revistablimunda/photos/a.400158763480579.1073741828.396331347196654/480587635437691/?type=1&theater
Epígrafe da Blimunda de julho. 
Para ler a revista aceda: http://www.josesaramago.org/blimunda-38-julho-2015/

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https://www.facebook.com/photo.php?fbid=342078622611148&set=a.251929848292693.1073741828.251925724959772&type=1&theater
"As palavras não dizem tudo quanto é preciso. Diriam mais, talvez, se fossem asas."
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https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1140576965982367&set=a.351347084905363.82732.100000902248652&type=3&theater
Para começar, gosto das mulheres. Acho que elas são mais fortes, mais sensíveis e que têm mais bom senso que os homens. Nem todas as mulheres do mundo são assim, mas digamos que é mais fácil encontrar qualidades humanas nelas do que no género masculino. Todos os poderes políticos, económicos, militares são assunto de homens. Durante séculos, a mulher teve de pedir autorização ao seu marido ou ao seu pai para fazer fosse o que fosse. Como é que pudemos viver assim tanto tempo condenando metade da humanidade à subordinação e à humilhação?
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https://www.facebook.com/Meninasparasempre/photos/a.362356613815455.98867.362345143816602/870485623002549/?type=1&theater
Nenhum dia é festivo por ter já nascido assim: seria igualzinho aos outros se não fôssemos nós a «fazê-lo» diferente.
arte de Helena Coelho
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sOBRE O LIVRO ENSAIO DA CEGUEIRA

Via
http://www.estantedelivros.com/2010/09/ensaio-sobre-a-cegueira.html
Sinopse: «Um homem fica cego, inexplicavelmente, quando se encontra no seu carro no meio do trânsito. A cegueira alastra como “um rastilho de pólvora”. Uma cegueira colectiva. (…) Personagens sem nome. Um mundo com as contradições da espécie humana. Não se situa em nenhum tempo específico. É um tempo que pode ser ontem, hoje ou amanhã. As ideias a virem ao de cima, sempre na escrita de Saramago. A alegoria. O poder da palavra a abrir os olhos, face ao risco de uma situação terminal generalizada. A arte da escrita ao serviço da preocupação cívica.»
*

Opinião: No final do ano passado, tentámos elaborar num tópico do fórum uma lista de livros que pretendíamos ler em 2010; entre os cinco que nomeei, um deles era este Ensaio Sobre a Cegueira, que seria (e foi) o primeiro livro que li do único escritor português a ganhar o Prémio Nobel da Literatura até hoje. O falecimento recente do autor e a consequente “corrida” aos seus livros fez-me pensar que talvez não seria a melhor altura para começar a lê-lo e decidi deixar passar mais algum tempo. O facto de ter decidido fazer um mês temático de autores portugueses (que, por causa das férias pelo meio não está a correr como desejaria) pareceu-me a oportunidade ideal para, finalmente, mergulhar na obra de Saramago.Não escondo que iniciei esta leitura com um sentimento contraditório: se, por um lado, anos e anos a ouvir a ideia de que era um autor difícil de ler, pelo seu estilo peculiar de escrita, me deixaram algo receosa, por outro, algumas opiniões de pessoas que valorizo garantiam-me que ia gostar. Há autores que esperamos gostar e tornam-se uma desilusão; para outros partimos com poucas expectativas e acabamos por adorar. Este livro, para mim, não foi uma coisa nem outra: as minhas expectativas eram muito altas, e foram plenamente confirmadas.Tudo se inicia quando um homem, doravante denominado primeiro cego, perde completamente a visão depois de parar o carro num semáforo. A cegueira que dizia ter era diferente da já conhecida: via tudo branco. Este mal branco espalha-se como um rastilho de pólvora: as pessoas com as quais o primeiro cego contacta são contagiadas e, apesar de fisicamente não apresentarem nenhum sinal visível de doença, esta não demora muito até se tornar numa verdadeira epidemia.No início, e na tentativa de controlar o surto da doença, os responsáveis governamentais colocam os primeiros contaminados em quarentena, num antigo quartel, no qual o acesso ao exterior é praticamente nulo. Com o decorrer do tempo e com a chegada de cada vez mais cegos, a sobrevivência começa a ser cada vez mais o ponto fulcral e os limites a que o ser humano pode chegar o principal foco da história. O relato centra-se num grupo de pessoas, no qual se insere o primeiro cego e a mulher deste, o médico que o viu e a sua mulher (que vê), uma rapariga dos óculos escuros, um rapaz estrábico e um velho de venda preta. Para além de não sabermos o nome das personagens, não existem também quaisquer referências ao país em que se decorre a história.Se tivesse de definir o enredo deste livro numa palavra, escolheria angustiante. É um livro muitas vezes violento, aflitivo e desesperante. Oprime o leitor, fá-lo viver todas as dificuldades das personagens que acompanha e a montanha russa de emoções que os assalta. É um livro que lida com o lado mais negro da natureza humana, mas que, apesar de todos os sentimentos sombrios que desperta, não deixa também de mostrar a luz ao fundo do túnel. A cegueira – pelo menos foi assim que o entendi – é uma alusão ao facto de muitas vezes as pessoas não conseguirem ver para além do que está à superfície e dos preconceitos, de acreditarem em tudo o que a sociedade quer que acreditem e de não perceberem realmente aquilo que verdadeiramente importa. Quanto à escrita de Saramago: passado o primeiro impacto, e de me ter conseguido habituar a ler diálogos em texto corrido, foi uma leitura compulsiva. Não é preciso avançar muito no livro para perceber que estamos na presença de um escritor superior, alguém dotado nas palavras e que as sabe colocar no sítio exacto onde devem estar. Acho que é notório que adorei este livro, por isso não posso fazer mais nada senão recomendá-lo vivamente. Espero sinceramente ter oportunidade de explorar a obra de Saramago a fundo.  
***
SOBRE O LIVRO Do ANO DA MORTE DE RICARDO REIS foi o livro que gostei mais entre a Jangada de Pedra, Levantado do Chão,  
**Via 
 http://www.estantedelivros.com/2009/08/o-ano-da-morte-de-ricardo-reis.html 
Sinopse: Um tempo múltiplo. Labiríntico. As histórias das sociedades humanas. Ricardo Reis chega a Lisboa em finais de Dezembro de 1935. Fica até Setembro de 1936. Uma personagem vinda de uma outra ficção, a da heteronímia de Fernando Pessoa. E um movimento inverso, logo a começar: “Aqui onde o mar se acaba e a terra principia”; o virar ao contrário o verso de Camões: “Onde a terra acaba e o mar começa”. Em Camões, o movimento é da terra para o mar; no livro de Saramago temos Ricardo Reis a regressar a Portugal por mar. É substituído o movimento épico da partida. Mais uma vez, a história na escrita de Saramago. E as relações entre a vida e a morte. Ricardo Reis chega a Lisboa em finais de Dezembro e Fernando Pessoa morreu a 30 de Novembro. Ricardo Reis visita-o ao cemitério. Um tempo complexo. O fascismo consolida-se em Portugal.
Em tempo de férias e com uma maior disponibilidade, quer de tempo quer mentalmente, gosto de (re)visitar a escrita de José Saramago, um escritor que me me dá um imenso prazer (re)ler. O Mundo dá muitas voltas, descubro muitos escritores, de diferentes estilos literários, de diferentes escolas, de diferentes países, como se vivesse numa volta ao mundo na escrita, mas o certo é que volto, e voltarei, sempre à escrita densa, dura, mas poética e bela do prémio Nobel português. A sua escrita satisfaz-me, a mim não me faz nenhuma confusão o seu modo de escrever, antes pelo contrário: leio com maior rapidez, os seus livros inspiram-me e as suas histórias completam-me.O Ano da Morte de Ricardo Reis, como em quase tudo de Saramago, não é um livro muito fácil de ler, é denso, com muitos e variados caminhos; podemos, se formos um leitor não muito atento, ficar perdidos nos labirintos em que o autor nos convida a entrar.A história versa sobre Ricardo Reis, pseudónimo do grande poeta Fernando Pessoa, que regressa a Lisboa na altura da morte do seu criador. E vamos acompanhando a sua vida pelos caminhos de Lisboa à procura da sua redescoberta de Portugal, para quem já tinha abandonado o seu país de nascimento há muitos anos, sendo que aí o autor também nos ensina um pouco a História recente do nosso país.Entretanto, Ricardo Reis recebe a visita do fantasma de Fernando Pessoa e pelo meio ainda tem tempo para viver duas histórias de amor, conhecendo o amor e a paixão, numa história onde a duplicação de personagens, bem ao estilo do grande poeta português, ganha um sentido maior.Não é o meu livro de eleição de Saramago, ficará pelo pódio, mas é dos livros mais marcantes que já li, pela história original, onde a ficção se mistura com História. Aconselho vivamente a sua leitura, embora pense que não será o melhor para começar a se habituar à escrita de Saramago. Para isso, aconselho o último, o brilhante e divertido, A Viagem de Elefante
***
SOBRE O LIVRO TODOS OS NOMES
há uma frase que m' inspira permanentemente:
"O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca e que é preciso andar muito para alcançar o que está perto."
In Todos os Nomes
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1494053877475148&set=a.1393838497496687.1073741828.1393828550831015&type=1&theater
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via blogue
http://santoconhecimentodecadadia.blogspot.pt/2010/12/todos-os-nomes-jose-saramago-1997.html

20 de dezembro de 2010

Todos os nomes - José Saramago, 1997

    Saramago é sempre Saramago. Mas é difícil falar sobre um autor né? Esses tempos estava olhando uma entrevista do Saramago, no programa Roda Viva, de 1997. Achei curiosamente absurdo como os “entrevistadores” faziam perguntas ao mesmo tempo que afirmavam veredictos sobre o caráter do nosso autor. O Saramago, como gênio que foi (e que continua a ser através de sua magnífica obra) de forma muito elegante sempre tentava explicar da maneira mais pacienciosa do mundo. Mas realmente fiquei com vergonha pelo povo brasileiro de ver verdadeiros bobalhões fazendo perguntas tolas, do tipo, “Saramago, eu vejo que nesses seus últimos livros você faz uma espécie de provocação, uma birra com Deus, é isso?”. Porra né. Saramago foi ateu, ele se utiliza do sarcasmo e da ironia quando fala de Deus, lançando luz à forte sustentação da sua falta de fé professa. Na resposta educada do autor ele tenta dizer, em síntese, que não poderia se colocar na posição de provocador de Deus, pois não cria nele. Meio óbvio né? E assim foi quase todo o debate, com perguntas desse tipo, salvos alguns entrevistadores que formularam coisas melhores. (Para quem quiser assistir a entrevista aqui vai o link:http://tvcultura.com.br/rodaviva/programa/PGM0584).
    Mas enfim, eu adorei esse livro. Ele trata de uma excêntrica história de amor. Trata também, e mais uma vez, das sensibilidades e das contradições da alma humana. Um funcionário de um arquivo subitamente se vê vítima de uma verdadeira obsessão pelo verbete de determinada mulher. Dali em diante ele empreende uma verdadeira cruzada para saber tudo o que puder sobre aquela mulher. Suas descobertas vão se tornando tanto mais intrigantes quanto mais surpreendentes.

SARAMAGO, José. Todos os nomes. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 279 p.

Em todo o caso não seria justo esquecer as dificuldades dos vivos. É mais do que certo e sabido que a morte, quer por incompetência de origem quer por má-fé adquirida na experiência, não escolhe as suas vítimas consoante a duração das vidas que viveram, procedimento este, aliás, entre parêntesis se diga, que, a dar crédito à palavra das inúmeras autoridades filosóficas e religiosas que sobre o tema se pronunciaram, acabou por produzir no ser humano, reflexamente, por diferentes e às vezes contraditórios caminhos, o efeito paradoxal duma sublimação intelectual do temor natural da morte. p. 15-16

O Sr. José tem o louvável pudor daqueles que não andam por aí a queixar-se dos seus transtornos nervosos e psicológicos, autênticos ou imaginados [...].p. 22

[...] é por de mais sabido que o espírito humano, muitas vezes, toma decisões cujas causas mostra não conhecer, sendo de supor que o faz depois de ter percorrido os caminhos da mente com tal velocidade que depois não é capaz de os reconhecer e muito menos reencontrar. p. 24

[...] de facto não há nada que mais canse uma pessoa que ter de lutar, não com o seu próprio espírito, mas com uma abstração. p. 27

A prudência tentava retê-lo, segurá-lo pela manga, mas como toda a gente sabe, ou devia saber, a prudência só é boa quando  se trata de conservar aquilo que já não interessa [...]. p. 35

Quanto aos pensamentos metafísicos, meu caro senhor, permita-me que lhe diga que qualquer cabeça é capaz de os produzir, o que muitas vezes não consegue é encontrar as palavras. p. 39

Em rigor, não tomamos decisões, são as decisões que nos tomam a nós. p. 42

Quem somos nós para falar de conseqüências, se da fila interminável delas que incessantemente vêm caminhando na nossa direcção apenas podemos ver a primeira. p. 48

[...] perdoa-se porque se ama, ama-se porque se perdoa [...]. p. 63

[...] no casamento existem três pessoas, há a mulher, há o homem, e há o que chamo a terceira pessoa, a mais importante, a pessoa que é constituída pelo homem e pela mulher juntos, se um dos dois comete adultério, por exemplo, o mais ofendido, o que recebe o golpe mais fundo, por muito incrível que isto lhe pareça, não é o outro, mas esse outro outro que é o casal, não é o um, mas o dois [...]. p. 63-64

Entre matar e deixar morrer, preferi matar. p. 65

[...] é o que sucede quando assistimos a uma conversa e não prestamos atenção, sempre o mais importante nos escapa. p. 66

[...] deve haver na minha cabeça, e seguramente na cabeça de toda a gente, um pensamento autônomo que pensa por sua própria conta, que decide sem a participação do outro pensamento, aquele que conhecemos desde que nos conhecemos e que tratamos por tu, aquele que se deixa guiar por nós para nos levar aonde cremos que conscientemente queremos ir, mas que, afinal de contas, poderá ser que esteja a ser conduzido por outro caminho, noutra direcção, e não para a esquina mais próxima, onde um bando de perdizes nos espera sem que o saibam, mas sabendo nós, enfim, que o que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca e que é preciso andar muito para alcançar o que está perto. p. 68-69

[...] também os pássaros cantam e não sabem porquê. p. 71

[...] o princípio de um desenho como o de todas as vidas, feito de linhas quebradas, de cruzamentos, de intersecções, mas nunca de bifurcações, porque o espírito não vai a lado nenhum sem as pernas do corpo, e o corpo não seria capaz de mover-se se lhe faltassem as asas do espírito. p. 74

[...] as vidas são como os quadros, precisaremos sempre de olhá-los quatro passos atrás, mesmo se um dia chegamos a tocar-lhes a pele, a sentir-lhes o cheiro, a provar-lhes o gosto. p. 74

Provavelmente, quanto maior é a diferença, maior será a igualdade, e quanto maior é a igualdade, maior a diferença será. p. 97

[...] nunca se sabe, tantas têm sido as vezes na vida que uma pequena viração acabou em furacão destruidor. p. 116

O diálogo fora difícil, com alçapões e portas falsas surgindo a cada passo, o mais pequeno deslize poderia tê-lo arrastado a uma confissão completa se não fosse estar o seu espírito atento aos múltiplos sentidos das palavras que cautelosamente ia pronunciando, sobretudo aquelas que parecem ter um sentido só, com elas é que é preciso mais cuidado. Ao contrário do que em geral se crê, sentido e significado nunca foram a mesma coisa, o significado fica-se logo por aí, é direto, literal, explícito, fechado em si mesmo, unívoco, por assim dizer, ao passo que o sentido não é capaz de permanecer quieto, fervilha de sentidos segundos, terceiros e quartos, de direcções irradiantes que se vão dividindo e subdividindo em ramos e ramilhos, até se perderem de vista, o sentido de cada palavra parece-se com uma estrela quando se põe a projectar marés vivas pelo espaço fora, ventos cósmicos, perturbações magnéticas, aflições. p. 134-135

A solidão, Sr. José, declarou com solenidade o conservador, nunca foi boa companhia, as grandes tristezas, as grandes tentações e os grandes erros resultam quase sempre de se estar só na vida, sem um amigo prudente a quem pedir conselho quando algo nos perturba mais que o normal de todos os dias. p. 141

Eu, triste, o que se chama propriamente triste, senhor, não creio que o seja, talvez minha natureza seja um pouco melancólica, mas isso não é defeito [...]. p. 141

[...] a melhor maneira de defender os segredos próprios ainda é guardar respeito aos segredos alheios. p. 147-148

[...] a pele é tudo quanto queremos que os outros vejam de nós, por baixo dela nem nós próprios conseguimos saber quem somos. p. 157

A sabedoria dos tectos é infinita, Se és um tecto sábio, dá-me uma idéia, Continua a olhar para mim, às vezes dá resultado. p. 157

Homem, não tenhas medo, a escuridão em que estás metido aqui não é maior do que a que existe dentro do teu corpo, são duas escuridões separadas por uma pele, aposto que nunca tinhas pensado nisto, transportas todo o tempo  de uma lado para outro uma escuridão, e isso não te assusta, [...] meu caro, tens que aprender a viver com a escuridão de fora como aprendeste a viver com a escuridão de dentro. p. 177

[...] o tempo psicológico não corresponde ao tempo matemático. p. 179

[...] as velhas fotografias enganam muito, dão-nos a ilusão de que estamos vivos nelas, e não é certo, a pessoa para quem estamos a olhar já não existe , e ela, se pudesse ver-nos, não se reconheceria em nós. p. 181

[...] o que eu havia dito não passava duma frase de efeito, oca, dessas que parecem profundas e não têm nada dentro. p. 199

[...] a memória, que é susceptível e não gosta de ser apanhada em falta, tende a preencher os esquecimentos com criações de realidade próprias, obviamente espúrias, mas mais ou menos contíguas aos factos de cujo acontecer só lhe havia ficado uma lembrança vaga, como o que resta da passagem duma sombra. p. 201

Nos países civilizados não existe esta prática absurda dos lugares cativos, esta idéia de considerar para sempre para sempre intocável qualquer sepultura, como se não tendo podido a vida ser definitiva, a morte o pudesse ser. p. 217

[...] o facto evidente de o Cemitério Geral ser um catálogo perfeito, um mostruário, um resumo de todos os estilos, sobretudo de arquitetura, escultura e decoração, e portanto um inventário de todos os modos de ver, estar e habitar existente até hoje [...]. p. 226

[...] é nas ocasiões de mais extremo apuro que o espírito dá a autêntica medida da sua grandeza. p. 237

O espírito humano, porém, quantas vezes será preciso dizê-lo, é o lugar predilecto das contradições, aliás, nem se tem observado ultimamente que elas prosperem ou simplesmente tenham condições de existência viáveis fora dele. p. 268


[...] o certo é que nunca poderá haver sobre o que se vê garantias firmes, as aparências enganam muito, por isso lhes chamamos aparências. p. 268
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SOBRE O LIVRO AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE:
José Saramago
http://interrogacao.com.br/2010/06/livro-as-intermitencias-da-morte-jose-saramago/
E “No dia seguinte ninguém morreu”, a primeira frase do livro As intermitências da Morte(Companhia das Letras, 2005), de José Saramago, ecoou pelos milhares de leitores dele, no último dia 18 de junho. A Morte de fato não cessou e as Letras perderam um dos escritores contemporâneos que mais trouxe discussões em torno do ser humano. Com características próprias, Saramago escrevia sem pensar nas formalidades do texto. Seus longos (e densos) parágrafos, marcam a sua técnica narrativa única, fazendo o leitor mais assíduo ficar atônito e os desavisados levemente cansados.
Anunciando que a Morte tirou férias, somente em um pequeno país, se dá o inicio da saga de uma morte com trejeitos humanos que resolve dar aos homens o que pedem há séculos, a vida eterna. Mas com ela cessando seus serviços, o que sobra? Como um país, economicamente falando, funciona se as pessoas pararem de morrer? E a Igreja, vai prometer uma vida após morte para quem? Num primeiro momento a sensação era de estado de euforia e de otimismo e até de fervor patriótico, afinal as pessoas não morreriam mais, acabaram-se os momentos depressivos do adeus. Mas em pouquíssimo tempo essa euforia se dissiparia em pedaços, com trechos descrevendo o desespero de pessoas atravessando as fronteiras do país, para simplesmente morrer.
Na primeira parte de As intermitências da Morte, a própria se apresenta de forma clássica porém existencialista decidindo não trabalhar por alguns dias, e simplesmente nem um pouco preocupada com o que andam dizendo os homens. Por mais estranho que possa parecer, ela decide ¨viver¨. A partir do ponto em que resolve experimentar as vicissitudes humanas é que a narrativa de Saramago toma outro rumo. A segunda parte do livro surge com uma história de uma Morte apaixonada, sem saber o que fazer com um dos sentimentos que mais questionam os homens, além dela própria, o amor.
Saramago foi minucioso, como não poderia deixar de ser. A narrativa de As intermitências da Morte é simples porém detalhista, em muitos momentos ele se atém a dados e resultados de cada setor de um país (nesse caso, monarquista), que pode sofrer com uma coisa que pode ser tão banal como a morte, deixando o texto cheio de referências soando como um verdadeiro relato. A crítica é ferrenha contra o Estado e a Igreja, e o português não deixa por menos a sua fama de questionador, fato que se comprovou até os seus últimos dias escrevendo sempre inflamações em relação ao mundo no seu blog.
A crítica especializada banalizou ao extremo a obra publicada em 2005. Afinal, Saramago já havia escrito livros premiados e polêmicos como o ¨Ensaio sobre a Cegueira¨ e ¨O evangelho segundo Jesus Cristo¨ que trazia explícitas suas opiniões sobre ateísmo e alienação das pessoas. Muito se falou da solução ¨hollywoodiana¨ do autor usar uma Morte que encontra no Amor um motivo de tratar o seu trabalho de outra forma, de entender um pouco os sentimentos humanos. Mas a verdade que dessa forma, mais uma vez, ele surpreendeu trazendo a obviedade em meio todo o caos que se gerou e torna de uma única figura, a Morte.
Talvez, para a crítica, não caiba mais a discussão da recepção do leitor (sem teorias, por favor), ou de como a experiência da leitura faz sentido para quem lê. Essa obra de José Saramago, como em todas as suas ficções, traz a tona questionamentos profundos típicos dele, a economia, a religião e a sociedade, afinal elas andam juntas e devem ser pensadas como parte de um todo. Pensar sobre o fim das coisas sempre foi um questionamento que se igualou com o do porquê estarmos aqui, e para onde mesmo vamos.
O autor sempre fora conhecido por ser crítico e certeiro e, mesmo assim, sem atacar ninguém. Não era necessário, ele precisava simplesmente escrever sobre o que considerava verdade, sem temer. Não foi diferente no seu último livro, Caim. Realmente, na literatura, autores como José Saramago farão falta. Em tempos de celebridades instantaneas tornando-se ¨escritoras¨, sempre sobrarão lacunas para aqueles que possam proliferar seu ácido sobre tais situações.
As intermitências da Morte, enfim, faz mais que o papel de uma narrativa circular e ficcional, usando como personagem um dos maiores temores humanos. É uma leitura nitidamente crítica e que representa, além dos próprios cânones dele, uma obra tipicamente ¨saramaguiana¨ que critica além dos contratos sociais, o próprio homem, humanizando a própria morte.
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Via
http://opianoeaspalavras.blogspot.pt/2008/09/frases-e-trechos-do-livro-as.html

 do livro As intermitências da morte

"...as esperanças tem esse fado que cumprir, nascer umas nas outras, por isso é que, apesar de tantas decepções, ainda não se acabaram no mundo..."

"Isso a que chama mistérios é muitas vezes uma proteção, há os que levam armaduras, há os que levam mistérios."

"À igreja nunca se lhe pediu que explicasse fosse o que fosse (...), uma de suas especialidades tem sido neutralizar, pela fé, o espírito curioso."

"...a morte, por si mesma, sozinha, sem qualquer ajuda externa, sempre matou muito menos que o homem."
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Via Citador
As Intermitências da Morte
http://www.citador.pt/biblio.php?op=21&book_id=2106
«As Intermitências da Morte» é um romance com duas partes que se podem dizer claramente distintas: na primeira, é ensaiado um cenário global de cessação da morte por um determinado período num determinado país, em que Saramago especula sobre todas as acções e reacções que os vários sectores da sociedade vão naturalmente exercer. Passando pelo governo, igreja, hospitais, agências funerárias, seguradoras, lares de terceira idade e a criação de uma máfia própria que explorará o negócio da morte, este relato encerra uma série de trivialidades lineares que só a grande mestria de escrita de Saramago consegue salvar da vulgaridade e previsibilidade. Vale o exercício e lição (moral?) de que se as pessoas se tornassem imortais seriam mais os problemas, de toda a espécie, que os benefícios, e que a morte (mais a sua imprevisibilidade) é o verdadeiro regulador da sociedade. 

Na segunda parte, tomando como balanço o enredo anterior, Saramago envereda por outra história em que a morte, personificada, se vê surpreendida, pela primeira vez na sua vida(!), por uma pessoa a quem ela ordena morrer mas não morre. Segue-se então uma busca e investigação das razões para que tal esteja a acontecer, vendo-se a morte a braços com um caso sem explicação mas que, fatalmente, se encontra para além das suas capacidades: o amor. 

Valendo principalmente pelo estilo de escrita de Saramago, cativante e mirabolante para todos os seus apreciadores, «As Intermitências da Morte» valem mais pela segunda parte do livro que propriamente pelo seu todo, sendo contudo um livro razoável se deixarmos um pouco de parte os seus grandes livros do passado («Memorial do Convento», «A Morte de Ricardo Reis», «Ensaio sobre a Cegueira») como referência de comparação.

Comentários

Nota do Editor: «No dia seguinte ninguém morreu». Assim começa este novo romance de José Saramago. Colocada a hipótese, o autor desenvolve-a em todas as suas consequências, e o leitor é conduzido com mão de mestre numa ampla divagação sobre a vida, a morte, o amor e o sentido, ou a falta dele, da nossa existência. Foi na morte que o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o prémio Nobel da Literatura procurou material para o seu novo romance. Cansada de ser detestada pela Humanidade, a grande ceifeira resolve suspender as suas actividades. De repente, num certo país fabuloso, as pessoas simplesmente deixam de morrer. E o que no início provoca um verdadeiro clamor patriótico logo se revela um grave problema. Um por um, ficam expostos os vínculos que ligam o Estado, as religiões e o quotidiano à mortalidade comum de todos os cidadãos.

Excerto

Sobre a mesa há uma lista de duzentos e noventa e oito nomes, algo menos que a média do costume, cento e cinquenta e dois homens e cento e quarenta e seis mulheres, um número igual de sobrescritos e de folhas de papel de cor violeta destinados à próxima operação postal, ou falecimento-pelo-correio. A morte acrescentou à lista o nome da pessoa a quem se dirigia a carta que tinha regressado à procedência, sublinhou as palavras e pousou a caneta no porta-penas. Se tivesse nervos, poderíamos dizer que se encontra ligeiramente excitada, e não sem motivo. Havia vivido demasiado para considerar a devolução da carta como um episódio sem importância. Compreende-se facilmente, um pouco de imaginação bastará, que o posto de trabalho da morte seja porventura o mais monótono de todos quantos foram criados desde que, por exclusiva culpa de deus, caim matou a abel. Depois de tão deplorável acontecimento, que logo no princípio do mundo veio mostrar como é difícil viver em família, e até aos nossos dias, a cousa tinha vindo por aí fora, séculos, séculos e mais séculos, repetitiva, sem pausa, sem interrupções, sem soluções de continuidade, diferente nas múltiplas formas de passar da vida à não-vida, mas no fundo sempre igual a si mesma porque sempre igual foi também o resultado. Na verdade, nunca se viu que não morresse quem tivesse de morrer. E agora, insolitamente, um aviso assinado pela morte, de seu próprio punho e letra, um aviso em que se anunciava o irrevogável e improrrogável fim de uma pessoa, tinha sido devolvido à origem, a esta sala fria onde a autora e signatária da carta, sentada, envolta na melancólica mortalha que é seu uniforme histórico, com o capuz pela cabeça, medita no sucedido enquanto os ossos dos seus dedos, ou os seus dedos de ossos, tamborilam sobre o tampo da mesa.
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"Há coisas que nunca se poderão explicar por palavras".
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"Eu não sou um exemplo do que é viver neste mundo. Sou um privilegiado. Mas não posso estar contente. O mundo é o inferno. Não vale a pena ameaçarem-nos com outro inferno porque já estamos nele. A questão é saber como é que saímos dele."


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“A esperança. Só a esperança, nada mais.
Chega-se um ponto, em que não há mais nada senão ela...
É então que descobrimos que ainda temos tudo.”
Ilustração :Hansel and Gretel by Beatriz Martin Vida
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"Sabemos muito mais do que julgamos, podemos muito mais do que imaginamos."
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Uma palavra nunca vem só, mesmo a palavra solidão precisa de quem a sofra.
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Demissão

Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.

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Epígrafe da Blimunda #27, dedicada a Julio Cortázar, que pode ser descarregada de forma gratuita em:http://blimunda.josesaramago.org/
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"Nós estamos a assistir ao que eu chamaria a morte do cidadão e, no seu lugar, o que temos e, cada vez mais, é o cliente. Agora já ninguém nos pergunta o que é que pensamos, agora perguntam-nos qual a marca do carro, de fato, de gravata que temos, quanto ganhamos..."
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A Revolução da Bondade 

Acho que a grande revolução, e o livro «Ensaio sobre a Cegueira» fala disso, seria a revolução da bondade. Se nós, de um dia para o outro, nos descobríssemos bons, os problemas do mundo estariam resolvidos. Claro que isso nem é uma utopia, é um disparate. Mas a consciência de que isso não acontecerá, não nos deve impedir, cada um consigo mesmo, de fazer tudo o que pode para reger-se por princípios éticos. Pelo menos a sua passagem pelo este mundo não terá sido inútil e, mesmo que não seja extremamente útil, não terá sido perniciosa. Quando nós olhamos para o estado em que o mundo se encontra, damo-nos conta de que há milhares e milhares de seres humanos que fizeram da sua vida uma sistemática acção perniciosa contra o resto da humanidade. Nem é preciso dar-lhes nomes.

 em " Folha de S. Paulo, Outubro 1995"

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Sobre A VIAGEM DO ELEFANTE

https://www.facebook.com/pages/A-Viagem-do-Elefante/128003587239760?fref=ts#
A Viagem do Elefante é um romance de 2008 do escritor portuguêsNobel de Literatura de 1998,José Saramago. O romance retrata a ida do paquiderme indiano Salomão até à Áustria, mandado pelo Rei D. João III, onde será o presente de casamento do arquiduque Maximiliano da Áustria.


Os "bastidores" da escrita deste romance foram filmados pelo diretor Miguel Gonçalves Mendes e transformados no documentário José e Pilar.
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Via:















"A Viagem do Elefante" é uma metáfora da vida humana - José Saramago


** Ana Nunes Cordeiro, da Agência Lusa **

Lisboa, 05 Nov (Lusa) - Existiu, no século XVI, um paquiderme indiano que caminhou de Lisboa a Viena, ao qual José Saramago chamou Salomão e cuja história conta no seu novo livro, "A Viagem do Elefante", uma metáfora da vida humana.
"O livro narra uma viagem de um elefante que estava em Lisboa, e que tinha vindo da Índia, um elefante asiático que foi oferecido pelo nosso rei D. João III ao arquiduque da Áustria Maximiliano II (seu primo). Isto passa-se tudo no século XVI, em 1550, 1551, 1552. E, portanto, o elefante tem de fazer essa caminhada, desde Lisboa até Viena, e o que o livro conta é isso, é essa viagem", disse o escritor, em entrevista à Lusa.
Apesar das mais de 250 páginas do livro, uma edição da Caminho que estará quinta-feira nas livrarias, Saramago considera-o um conto, e não um romance, "porque lhe falta o que caracteriza em primeiro lugar um romance: uma história de amor -o elefante não conhece uma elefanta no caminho - e conflitos, crises", argumentou.
Para este novo livro, o escritor não encontrou informação histórica suficiente "para dar consistência a essa viagem, porque alguma coisa teria de acontecer enquanto a viagem durou, e durou meses", pelo que lhe restou "a invenção, fabricar uma história".
"Os dados históricos eram pouquíssimos e o que há tem que ver principalmente já com o que se passou depois da chegada do elefante à Áustria. Daqui de Lisboa até lá, não se sabe o que aconteceu. Sabe-se, ou parte-se do princípio de que foi de Lisboa até Valladolid - onde o arquiduque era, desde há dois ou três anos, regente, em nome do imperador Carlos V (de quem era genro) -, que embarcou no porto da Catalunha para Génova e que tudo o que não foi esta pequena viagem de barco foi, como costumamos dizer, à pata", resumiu.
Teve conhecimento da história "há uns anos, já bastantes", em Salzburgo, cidade a que se deslocou a convite da universidade e onde foi recebido pela leitora de português Gilda Lopes Encarnação.
"Creio que no próprio dia da minha chegada fomos jantar com outros professores a um restaurante que se chamava `O Elefante`. O simples nome do restaurante não era suficiente para despertar a minha curiosidade, mas a verdade é que lá dentro havia uma escultura relativamente grande representando um elefante e havia, sobretudo, um friso de pequenas esculturas que, entre a Torre de Belém, que era a primeira, e outra de um monumento ou edifício público que representaria Viena, marcava o itinerário do elefante entre Lisboa e Viena. Perguntei-lhe o que era aquilo, ela contou-me e, naquele momento, eu senti que aquilo podia dar uma história", relatou.
Começou a escrever em Fevereiro de 2007, altura em que já estava bastante doente, com um problema respiratório, escreveu "umas 40 páginas" e parou, porque a doença se agravou, e acabou por ser hospitalizado durante três meses, tendo chegado a pensar que não terminaria o livro. Mas recuperou, regressou a casa em Fevereiro deste ano, embora "mal" - "de certo modo, uma sombra de mim mesmo", observou -, pôs-se logo a escrever e acabou-o em Agosto, no dia 12.
"[Contei esta história] em primeiro lugar, porque me apeteceu, e em segundo lugar, porque, no fundo - se quisermos entendê-la assim, e é assim que a entendo - é uma metáfora da vida humana: este elefante que tem de andar milhares de quilómetros para chegar de Lisboa a Viena, morreu um ano depois da chegada e, além de o terem esfolado, cortaram-lhe as patas dianteiras e com elas fizeram uns recipientes para pôr os guarda-chuvas, as bengalas, essas coisas", referiu.
"Quando uma pessoa se põe a pensar no destino do elefante - que, depois de tudo aquilo, acaba de uma maneira quase humilhante, aquelas patas que o sustentaram durante milhares de quilómetros são transformadas em objectos, ainda por cima de mau gosto - no fundo, é a vida de todos nós. Nós acabamos, morremos, em circunstâncias que são diferentes umas das outras, mas no fundo tudo se resume a isso", defendeu.
Sobre a epígrafe do livro, o prémio Nobel da Literatura português sustentou que esta "é muito clara quando diz `sempre acabamos por chegar aonde nos esperam`".
"E o que é que nos espera? A morte, simplesmente. Poderia parecer gratuita, sem sentido, a descrição, que não é exactamente uma descrição, porque é a invenção de uma viagem, mas se a olharmos deste ponto de vista, como uma metáfora, da vida em geral mas em particular da vida humana, creio que o livro funciona", comentou.
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Via: http://vestibularnopara.com.br/analise-a-viagem-do-elefante-de-saramago/
PARTES DO LIVRO
Primeira parte
Início da viagem, quando o rei de Portugal resolve se desfazer do elefante que já não lhe tinha utilidade e estava sujo e abandonado. Como pretexto, aproveita para dá-lo como presente de casamento ao arquiduque da Áustria. Além de se livrar dos gastos com o paquiderme o monarca aproveita a oportunidade para dar um presente exuberante.
Segunda parte
O arquiduque aceita o presente. Agora eles precisam tomar as providências para o transporte do elefante, que seguirá acompanhado do cornaca, Subhro.
Terceira parte
A viagem é iniciada. Parte a comitiva formada por Subhro, dois ajudantes, homens do abastecimento, carro de bois com água, pelotão de cavalaria, carro da intendência puxado por mulas. A viagem é vagarosa pois dependem do ritmo dos bois e precisam aguardar os longos banhos do elefante. Subhro, que entende do cuidado com os animais, precisa expor suas ideias, mas com cuidado para não desrespeitar a autoridade do comandante. O cornaca sugere que consigam, de algum proprietários das redondezas, mais uma junta de bois para acelerar a viagem.
Quarta parte
Nessa parte eles irão colocar em prática a ideia do cornaca. Eles encontram uma propriedade de um conde, em uma aldeia.
Quinta parte
Eles passam por um temporal, inesperado na época de verão. Agora, terão que se abrigar nas aldeias. Em uma delas, é discutido ao redor de uma fogueira aspectos das religiões. É contada a história do deus com cabeça de elefante – Ganesha. Os aldeãos começaram a acreditar que o elefante era um deus. Eles trataram de informar o padre local. Pela manhã, foi feito um exorcismo em Salomão. Ao final dessa parte um nevoeiro toma conta do local, trazendo transtornos para alguns ajudantes que se perdem.
Sexta parte
O comandante expressa saudades da família. Será o gancho que o autor terá para acrescentar nessas lembranças as aventuras literárias do Amadis de Gaula (novela de cavalaria). Os viajantes não passarão por Castela. Prevenidos, eles vão até Castelo Rodrigo, seguindo orientações de carta enviada ao arquiduque. Ela indicava que uma força militar espanhola ou austríaca estaria no local a espera deles.
Sétima parte
A caravana portuguesa chega antes dos espanhóis e austríacos em Castelo Rodrigo.
Oitava e nona parte
O destaque é para a expectativa dos portugueses pela chegada da suposta tropa inimiga. Ao chegarem os austríacos querem levar o elefante. O comandante aceita somente se sua tropa puder ir junto até Valladolid, para entregar o presente pessoalmente.
Décima parte
As duas tropas viajarão juntas. A vontade do comandante austríaco era de levar o elefante sem a companhia dos portugueses para ganhar o mérito sozinho.
Décima primeira parte
Acontece a chegada a Valladolid. É ordenada a troca do nome do elefante e do cornaca, por serem difíceis de pronunciar. A viagem continuará por territórios espanhóis e italianos. No caminho acontece um suposto milagre do elefante. Ele teria se ajoelhado diante da catedral de Pádua. Um milagre fabricado pelo cornaca, que adestrava o animal. A etapa seguinte é enfrentar o desfiladeiro de Brunir e em seguida viagem fluvial. Pelo caminho, Solimão era aplaudido, virando um eficiente instrumento político. Outro “milagre” acontece na chegada a Viena. O elefante salva uma menina de cinco anos. Ele evita que seja pisoteada por ele mesmo, pegando-a com a tromba e devolvendo aos pais.
Décima segunda parte
A morte do elefante é citada na abertura do capítulo. A causa é desconhecida. Após ser esfolado, cortaram suas patas dianteiras que após a higienização foram servir de recipiente para depositar bengalas e afins na porta do palácio. Subhro recebeu generosa quantia em dinheiro do arquiduque e o usa para comprar uma mula e burro. Ao comunicar a morte do animal aos reis de Portugal, tratando o elefante como um herói, a rainha Catarina (que só pensava em se livrar de Salomão) se tranca na sua câmara e chora o resto do dia.

***
Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

Via Maria Elisa R
***
"Na falsa democracia mundial, o cidadão está à deriva, sem a oportunidade de intervir politicamente e mudar o mundo. Actualmente, somos seres impotentes diante de instituições democráticas das quais não conseguimos nem chegar perto."
Via Maria Elisa R
***
para mim este é o livro dos livros de josÉ saraMAGO:
Via Ilda V
"Todos nós sofremos de uma doença, uma doença básica, digamos assim, esta que é inseparável do que somos e que, duma certa maneira, faz aquilo que somos, se não seria mais exacto dizer que cada um de nós é a sua doença, por causa dela somos tão pouco, também por causa dela conseguimos ser tanto…”.
*
via Célia Dionísio:
https://www.facebook.com/celia.dionisio/posts/10206559772579695?theater
*
A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz.
in O Ano da Morte de Ricardo Reis
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=824434270902989&set=a.462529847093435.111436.462489187097501&type=1&theater
*** 
"...é o que as palavras simples têm de simpático, não sabem enganar."
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10152890930864466&set=a.10151453117764466.580925.670324465&type=1&theater
***
Que caminhos do teu corpo não conheço
À sombra de que vales não dormi,
Que montanhas não escalei, que lantejoulas
Não abarquei nos olhos dilatados,

Que torrentes não passei, que rios fundos
A nudez do meu corpo não transpôs,
Que praias perfumadas não pisei,
Que selvas e jardins, que descampados ?

Arte - Carlos Oviedo

https://www.facebook.com/349094905211303/photos/a.349115855209208.1073741828.349094905211303/564657303655061/?type=1&theater
***
"A única revolução realmente digna de tal nome seria a revolução da paz, aquela que transformaria o homem treinado para a guerra em homem educado para a paz porque pela paz haveria sido educado. Essa, sim, seria a grande revolução mental, e portanto cultural, da Humanidade. Esse seria, finalmente, o tão falado homem novo."

Imagem: After
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1487113544835848&set=a.1393838497496687.1073741828.1393828550831015&type=1&theater
***
"Venham enfim as altas alegrias,
As ardentes auroras, as noites calmas,
Venha a paz desejada, as harmonias,
E o resgate do fruto, e a flor das almas.
Que venham, meu amor, porque estes dias
São de morte cansada,
De raiva e agonias
E nada."

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=864634680216730&set=a.825013580845507.1073741828.825005710846294&type=1&theater
***
"As palavras proferidas pelo coração
não tem língua que as articule, 
retém-nas um nó na garganta e só 
nos olhos é que se podem ler."
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=864635246883340&set=a.825013580845507.1073741828.825005710846294&type=1&theater
***
"O leitor também escreve o livro quando lhe penetra o sentido, o interroga"
https://www.facebook.com/fjsaramago/photos/a.113164772088281.17197.112209585517133/659197614151658/?type=1
***
A Revolução da Bondade:
Acho que a grande revolução, e o livro «Ensaio sobre a Cegueira» fala disso, seria a revolução da bondade. Se nós, de um dia para o outro, nos descobríssemos bons, os problemas do mundo estariam resolvidos. Claro que isso nem é uma utopia, é um disparate. Mas a consciência de que isso não acontecerá, não nos deve impedir, cada um consigo mesmo, de fazer tudo o que pode para reger-se por princípios éticos. Pelo menos a sua passagem por este mundo não terá sido inútil e, mesmo que não seja extremamente útil, não terá sido perniciosa. Quando nós olhamos para o estado em que o mundo se encontra, damo-nos conta de que há milhares e milhares de seres humanos que fizeram da sua vida uma sistemática acção perniciosa contra o resto da humanidade. Nem é preciso dar-lhes nomes.

 ( Folha de S. Paulo, Outubro 1995)

Imagem: Sabah, Malaysia © Andreas Kosasih

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1485756421638227&set=a.1393838497496687.1073741828.1393828550831015&type=1&theater
***
“A doença mortal do homem, como homem, é o egoísmo.” 

Art (não identificada)

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1491070027773533&set=a.1393838497496687.1073741828.1393828550831015&type=1&theater
***
Não escrevo para agradar nem para desagradar. Escrevo para desassossegar. É um título que gostaria de ter inventado e foi inventado por Fernando Pessoa - Livro do Desassossego. Gostaria que todos os meus livros fossem considerados livros para o desassossego.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=813468705332879&set=a.462529847093435.111436.462489187097501&type=1&theater
***
"Cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança."

In Ensaio sobre a Cegueira
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1486088984938304&set=a.1422322041314999.1073741851.1393828550831015&type=1&theater
***
Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?
 in “Os Poemas Possíveis”


© Matteo Arfanotti - Imagem
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=670065426362508&set=a.559507790751606.1073741828.559343457434706&type=1&theater
***
"Afinal, há é que ter paciência, 
dar tempo ao tempo, 
já devíamos ter aprendido,
e de uma vez para sempre,
que o destino tem de fazer muitos rodeios
para chegar a qualquer parte."

**
Eu luminoso não sou. Nem sei que haja
Um poço mais remoto, e habitado
De cegas
 criaturas, de histórias e assombros.
Se, no fundo poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d´água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.
***
https://www.facebook.com/349094905211303/photos/a.349115855209208.1073741828.349094905211303/536313853156073/?type=1&theater
***
https://www.facebook.com/obviousmagazine/photos/a.407362267289.183428.90825907289/10152299842487290/?type=1&theater
***
"A vida ri-se das probabilidades e põe palavras onde imaginamos silêncios e súbitos regressos quando pensávamos que não nos voltaríamos a encontrar."
***
Estamos usando nosso cérebro de maneira excessivamente disciplinada, pensando só o que é preciso pensar, o que se nos permite pensar.


josÉ saraMAGO: « Vivemos num sistema de mentiras organizadas, entrelaçadas umas nas outras. E o milagre é que, apesar de tudo, consigamos construir as nossas pequenas verdades, com as quais vivemos, e das quais vivemos....»
É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido.
"(...)Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ... ossos dela. (...)Cada um de nós é por enquanto a vida. Isso nos baste."

José Saramago
2


http://cartilhadepoesia.wordpress.com/2011/04/09/jose-saram
José Saramago
José de Sousa Saramago nasceu em Azinhaga, vilarejo do conselho de Golegã, que fica localizada na antiga província de Ribatejo em Portugal no dia 16 de novembro de 1922. Cresceu “numa família de camponeses em terra” como uma vez escreveu. Neste mês, percorreremos a poesia, pouca conhecida, deste grande e laureado escritor da língua portuguesa cuja prosa todos conhecemos. Com muita honra que determino: Agora é Saramago!
ÁGUA AZUL
Altos segredos escondem dentro de água
O reverso da carne, corpo ainda.
Como um punho fechado ou um bastão,
Abro o líquido azul, a espuma branca,
E por fundos de areia e madrepérola,
Desço o véu sobre os olhos assombrados.
(Na medida do gesto, a largueza do mar
E a concha do suspiro que se enrola.)
Vem a onda de longe, e foi um espasmo,
Vem o salto na pedra, outro grito:
Depois a água azul desvenda as milhas,
Enquanto um longo, e longo, e branco peixe
Desce ao fundo do mar onde nascem as ilhas.
Foi “numa família de camponeses sem terra” que Saramago nasceu. Consta que o nome ‘Saramago’ vem de uma planta espontânea que servia de alimento aos pobres. Em 1924, aos dois anos de idade, a família se muda para Lisboa. O pai resolvera abandonar o trabalho no campo para exercer a profissão de policial na capital. Meses depois da mudança, seu irmão, Francisco, de quatro anos de idade, faleceria. As condições eram precárias, a família viveu em vários lugares, sempre em quartos alugados na ruas de Lisboa.
TEU CORPO DE TERRA E ÁGUA
Teu corpo de terra e água
Onde a quilha do meu barco
Onde a relha do arado
Abrem rotas e caminho.
Teu ventre de seivas brancas
Tuas rosas paralelas
Tuas colunas teu centro
Teu fogo de verde pinho
Tua boca verdadeira
Teu destino minha alma
Tua balança de prata
Teus olhos de mel e vinho
Bem que o mundo não seria
Se o nosso amor lhe faltasse
Mas as manhãs que não temos
São nossos lençóis de linho
José Saramago fez a instrução básica nas escolas primarias da Rua Martens Ferrão e do Largo do Leão, em Lisboa. A família o havia matriculado numa escola chamada Liceu Gil Vicente, onde fez boa parte do colegial, divido na época em Portugal, em liceu e técnico. Porém, por dificuldades econômicas, foi obrigado a transferir-se para a Escola Industrial de Afonso Domingues, onde estudou, durante cinco anos, o ofício de serralheiro mecânico.
PASSO NUM GESTO QUE EU SEI
Passo num gesto que eu sei
Deste mundo agoniado para o espaço
Onde sou quanto serei
No tempo que sobra escasso
No outro mundo sou rei
E o meu rosto de cristal e puro aço
É o espelho que forjei
Com suor pena e cansaço
E se o mundo que deixei
Tem as marcas desenhadas do meu passo
São baralhas que enredei
São teias e vidro baço
Tantas provas cá terei
Tantas vezes do pescoço solto o laço
Se me sagraram em rei
Aceitem a lei que eu faço
Vem a ser que o homem novo
Está na verdade que movo

À noite, o jovem Saramago frequentava a biblioteca municipal do Palácio das Galveias, como ele próprio diria “lendo ao acaso de encontros e de catálogos, sem orientação, sem ninguém que me aconselhasse, como o mesmo assombro criador do navegante que vai inventando cada lugar que descobre”. Foi assim, “guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender” que desenvolveu o gosto pela leitura e o gosto especial por Kafka, Gogol, Cervantes, Montaigne, Raul Brandão e Padre Antônio Vieira.
DISSERAM QUE HAVIA SOL
Disseram que havia sol
Que todo o céu descobria
Que nas ramagens pousavam
Os cantos das aves loucas
Disseram que havia risos
Que as rosas se desdobravam
Que no silêncio dos campos
Se davam corpos e bocas
Mais disseram que era tarde
Que a tarde já descaía
Que ao amor não lhe bastavam
Estas nossas vidas poucas
E disseram que ao acento
De tão geral harmonia
Faltava a simples canção
Das nossas gargantas roucas
Ó meu amor estas vozes
São os avisos do tempo


Avançando na vida do jovem José Saramago, em 1944, aos 22 anos, casa-se com a pintora Ilda Reis. Neste momento, já havia mudado sua atividade, do emprego de serralheiro mecânico, agora, trabalharia como empregado administrativo, primeiro nos Hospitais Civis de Lisboa, depois, na Caixa de Abono da Família do Pessoal de Industria e Cerâmica, de onde foi afastado, mais tarde, em 1947, por razões políticas, quando apoiou o candidato da oposição General Norton de Matos, nas eleições da presidência da República.
DE PAZ E DE GUERRA
Na mão serena que num gesto de onda
Em estátua musical o ar modela.
Na mão torcida que num frio de gelo
A parede do tempo em fundos gritos risca.
Na mão de febre que num suor de chama
Em cinzas vai tornando quanto toca.
Na mão de seda que num afago de asa
Faz abrir os sonhos como fontes de água.
Na tua mão de paz, na tua mão de guerra,
Se já nasceu amor, faz ninho a mágoa.
Em 1947, nasce sua primeira e única filha, Violante, é também o ano da publicação de seu primeiro livro, Terra do Pecado, intitulado inicialmente, A Viúva. Graças à intervenção de seu antigo professor Jorge O’Neil, começou a trabalhar na Caixa de Previdência do Pessoal da Companhia de Previdente, fazendo cálculo de subsídios e de pensões. Nessa época, já escrevia poemas e contos, alguns deles publicados em algumas revistas e jornais. Outro romance, literário, viria.
RETRATO DO POETA QUANDO JOVEM
Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.
Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brandas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.
Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.
Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.
Em 1953, Saramago concluía o romance, até hoje inédito, Clarabóia, que seu amigo, o pintor Figueiredo Sobral, enviou para Empresa Nacional de Publicidade e de que esta só deu notícia em 1990 (!). Sobre este caso, Saramago disse que “sempre tive a consciência que não se perdeu grande coisa em não ter sido publicado”. Depois disso, consta que Saramago passaria dezenove anos sem escrever nada, quase duas décadas de silêncio, “achava que não tinha nada pra dizer”, dizia.

EM VIOLINO FADO


Ponho as mãos no teu corpo musical
Onde esperam os sons adormecidos.
Em silêncio começo, que pressente
A brusca irrupção do tom real.
E quando a alma ascendendo canta
Ao percorrer a escala dos sentidos,
Não mente a alma nem o corpo mente.
Não é por culpa nossa se a garganta
Enrouquece e se cala de repente
Em cruas dissonâncias, em rangidos
Exasperantes de acorde errado.
Se no silêncio em que a canção esmorece
Outro tom se insinua, recordado,
Não tarda que se extinga, emudece:
Não se consente em violino fado.
Saramago começou a trabalhar na editora Estúdios Cor, como responsável pela produção, o que lhe permitiu conhecer e fazer amizades com os principais escritores portugueses daquele momento. Nesta época, 1955, para melhorar os rendimentos da família, e também por gosto pessoal, Saramago inicia um trabalho de tradução literária. A partir daí, se envolve com Collete, Par Lagerkvist, Jean Cassou, Maupassant, André Bonnard, Tolstoi, Baudelaire, Étienne Balibar, Nicos Poulantzas, Henri Focillon, Jacques Roumain, Hegel e Raymond Bayer. Por aí vai.


TAXIDERMA OU POÉTICAMENTE HIPÓCRITA

Posso falar de morte enquanto vivo?
Posso ganir de fome imaginada?
Posso lutar nos versos escondido?
Posso fingir de tudo, sendo nada?
Posso tirar verdades de mentiras,
Ou inundar de fontes um deserto?
Posso mudar de cordas e de liras,
E fazer de má noite sol aberto?
Se tudo a vãs palavras se reduz
E com elas me tapo a retirada,
Do poleiro da sombra nego a luz
Como a canção se nega embalsamada.
Olhos de vidro e asas prisioneiras,
Fiquei-me pelo gasto de palavras
Como rasto das coisas verdadeiras.

Em 1966, Saramago publicou seu primeiro livro de poesia, Os Poemas Possíveis, cujos poemas percorremos nessa semana. Paralelamente, entre maio de 67 e novembro de 68, colaborou como crítico literário na revista Seara Nova, analisando vinte e três livros de ficção, dentre os quais, Jorge de Sena, Agustina Bessa Luís, Alice Sampaio, Augusto Abelaira, Urbano Tavares Rodrigues, José Cardoso Pires, Rentes Carvalho, Nelson de Matos e Manuel Campos Pereira. Saramago definiu Agustina como “genial”. Publicou crônicas no jornal A Capital, que depois seriam reunidas no livro Deste Mundo e de Outro.




MITOLOGIA

Os deuses, noutros tempos, eram nossos
Porque entre nós amavam. Afrodite
Ao pastor se entregava sob os ramos
Que os ciúmes de Hefesto iludiam.
Da plumagem do cisne as mãos de Leda,
O seu peito mortal, o seu regaço,
A semente de Zeus, dóceis, colhiam.
Entre o céu e a terra, presidindo
Aos amores de humanos e divinos,
O sorriso de Apolo refulgia.
Quando castos os deuses se tornaram,
O grande Pã morreu, e órfãos dele,
Os homens não souberam e pecaram.
Em 1970, José Saramago se divorcia de Ilda Reis e inicia, logo após, uma relação que duraria dezesseis anos com a escritora Isabel da Nóbrega. No mesmo ano publica seu segundo livro de poemas Provavelmente Alegria. Saramago sai da editora Estúdios Cor, onde trabalhava, e foi ser editorialista e coordenador de um suplemento cultural do Diário de Lisboa. Colaborava também com o Jornal do Fundão.
OUVINDO BEETHOVEN
Venham leis e homens de balanças,
Mandamentos daquém e dalém mundo,
Venham ordens, decretos e vinganças,
Desça o juiz em nós até ao fundo.
Nos cruzamentos todos da cidade,
Brilhe, vermelha, a luz inquisidora,
Risquem no chão os dentes da vaidade
E mandem que os lavemos a vassoura.
A quantas mãos existam, peçam dedos,
Para sujar nas fichas dos arquivos,
Não respeitem mistérios nem segredos,
Que é natural nos homens serem esquivos.
Ponham livros de ponto em toda a parte,
Relógios a marcar a hora exacta,
Não aceitem nem votem outra arte
Que a prosa de registo, o verso data.
Mas quando nos julgarem bem seguros,
Cercados de bastões e fortalezas,
Hão-de cair em estrondo os altos muros
E chegará o dia das surpresas.
Em 1973, José Saramago publica O Embargo e o segundo livro de crônicas jornalísticas e publicadas no Jornal do Fundão e em A Capital com o título de A Bagagem do Viajante. Em abril de 1974 vem a Revolução dos Cravos e, Saramago, que já dirigia o suplemento literário do Diário de Lisboa e colaborava com a revista Arquitectura, torna-se uma espécie de “operário das palavras”, é nomeado diretor-adjunto do Diário de Notícias durante o período de governo chefiados pelo General Vasco Gonçalves. Saramago já havia coordenado uma equipe do Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis, dependente do Ministério da Educação. Editou também seu primeiro livro de crônicas políticas: As Opiniões que DL teve.
texto Lá vem Juvenal! no http://equivocos-pedrolago.blogspot.com
AOS DEUSES SEM FIÉIS
Talvez a hora escura, a chuva lenta,
Ou esta solidão inconformada.
Talvez porque a vontade se recolha
Neste findar de tarde sem remédio.
Finjo no chão as marcas dos joelhos
E desenho o meu vulto em penitente.
Aos deuses sem fiéis invoco e rezo,
E pergunto a que venho e o que sou.
Ouvem-me calados os deuses e prudentes,
Sem um gesto de paz ou de recusa.
Entre as mãos vagarosas vão passando
A joeira do tempo irrecusável.
Um sorriso, por fim, passa furtivo
Nos seus rostos de fumo e de poeira.
Entre os lábios ressecos brilham dentes
De rilhar carne humana desgastados.
Nada mais que o sorriso retribui
O corpo ajoelhado em que não estou.
Anoitece de todo, os deuses mordem,
Com seus dentes de névoa e de bolor,
A resposta que aos lábios não chegou.
O verão quente de 75 foi turbulento, os tempos estavam confusos e Portugal, como muitos diziam, beirava uma guerra civil. No Diário de Notícias, onde Saramago trabalhava, consta que sentia-se o clima braço de ferro entre os tidos como “radicais” envolvidos no processo revolucionário de acordo com a linha política do Partido Comunista Português (PCP) do qual Saramago fazia parte desde 66, e com os mais “moderados”. A linha editorial do jornal foi posta em causa por trinta jornalistas que defendiam a revisão, ou seja, uma espécie de censura, através de uma abaixo-assinado, e exigiam a publicação do mesmo no próprio jornal.
POEMA A BOCA FECHADA
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é doutra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vasa de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais boiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quanto me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
O processo de censura dentro do Diário de Notícias apareceu logo no dia seguinte no jornal Expresso, assim como na BBC. No jornal, para qualquer tipo de decisão era preciso convocar o Conselho Nacional de Trabalhadores, onde, em certa noite, fora decidido que 24 jornalistas seriam afastados após uma intervenção eloquente de Saramago. Porém, no governo seguinte, Saramago, que fora alvo de uma espécie de “saneamento”, foi definitivamente afastado do cargo e o jornal suspenso sem qualquer apoio do Partido Comunista.
ESTUDO DE NU
Essa linha que nasce nos teus ombros,
Que se prolonga em braço, depois mão,
Esses círculos tangentes, geminados,
Cujo centro em cones se resolve,
Agudamente erguidos para os lábios
Que dos teus se desprenderam, ansiosos.
Essas duas parábolas que te apertam.
No quebrar onduloso da cintura,
As calipígias ciclóides sobrepostas
Ao risco das colunas invertidas:
Tépidas coxas de linhas envolventes,
Contornada espiral que não se extingue.
Essa curva quase nada que desenha
No teu ventre um arco repousado,
Esse triângulo de treva cintilante,
Caminho e selo da porta do teu corpo,
Onde o estudo de nu que vou fazendo
Se transforma no quadro terminado.

Mais uma vez desempregado e com as portas completamente fechadas para qualquer possibilidade de emprego no contexto político, José Saramago dedica-se por completo à escrita e à tradução, vertendo para o português cerca de vinte e sete obras, quase todas de caráter político. Ganhava pouco dinheiro, porém, não desistia do ofício. Fez parte do Movimento Unitário dos Trabalhadores Intelectuais para a Defesa da Revolução (MUTI) e publicou até o final de 1976 o livro O Ano de 1993, Apontamentos, que se tratava de uma reunião de crônicas do Diário de Notícias e também publicou o romance Manual de Pintura de Caligrafia.
Graças ao incentivo de Tavinho Paes, arquivo deste mailing para pesquisa em http://cartilhadepoesia.wordpress.com
EXERCÍCIO MILITAR
És campo de batalha, ou simples mapa?
És combate geral, ou de guerrilhas?
Na cortina de fumo que te tapa,
É paz que vem, ou novas armadilhas?
Fechado neste posto de comando,
Avanço as minhas tropas ao acaso
E tão depressa forço como abrando:
Capitão sem poder, soldado raso.
A lutar com fantasmas e desejos,
Nem sequer sinto as balas disparadas,
E disponho as bandeiras dos meus beijos
Em vez de abrir crateras a dentadas.

A infância marcada pelas dificuldades financeiras seria, mais tarde, lembrada num momento de glória do escritor e, aqui, poeta. Terminado o curso, conseguiu seu primeiro emprego como serralheiro mecânico nas oficinas dos Hospitais Civis de Lisboa. Desde cedo, adquiriu o hábito de ser pontual, rígido no cumprimento do dever e na dedicação ao trabalho. Consta que não tinha ambições na vida, que sabia que teria de viver cada dia com o árduo trabalho, e o que tivesse que chegar, chegaria com o tempo.
Experiência numa Biblioteca Municipal em http://equivocos-pedrolago.blogspot.com
NO TEU OMBRO POUSADA A MINHA MÃO
Eu luminoso não sou. Nem sei que haja
Um poço mais remoto, e habitado
De cegas criaturas, de histórias e assombros.
Se no fundo do poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d’água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.
No início de 1976, Saramago vai morar no Alentejo, mais precisamente na povoação rural de Lavre, onde colheu importantes informações que seriam fundamentais para a escrita de seu aclamado romance e primeiro grande sucesso, Levantado do Chão, com o qual recebeu o Prêmio da Cidade de Lisboa. Dois anos antes, havia publicado a peça de teatro A Noite e recebeu o Prêmio da Associação Portuguesa de Escritores, e o conto O Ouvido, que integrou a antologia Poética dos Cinco Sentidos. Saramago iniciava o amadurecimento de sua linguagem.
tradução de Victor Hugo em http://pedrolago.blogspot.com
RECORTO A MINHA SOMBRA DA PAREDE
Recorto a minha sombra da parede,
Dou-lhe corda, calor e movimento,
Duas demãos de cor e sofrimento,
Quanto baste de fome, o som, a sede.
Fico de parte a vê-la repetir
Os gestos e palavras que me são,
Figura desdobrada e confusão
De verdade vestida de mentir.
Sobre a vida dos outros se projecta
Este jogo das duas dimensões
Em que nada se prova com razões
Tal um arco puxado sem a seta.
Outra vida virá que me absolva
Da meia humanidade que perdura
Nesta sombra privada de espessura,
Na espessura sem forma que a resolva.
Na década de 80 veio a consagração internacional. Continuou traduzindo vários títulos, publicou a peça de teatro O que vou fazer com este livro?; publicou Viagem a Portugal; e Memorial do Convento, já em 1982, com o qual ganhou o prêmio Prêmio Pen Club e Prêmio Literário do Município de Lisboa. Depois, O Ano da Morte de Ricardo Reis, com o qual ganhou de novo o Pen Club, o Prêmio da Crítica 1985, pela Associação Portuguesa de Críticos, o Prêmio Dom Dinis (Fundação Casa de Mateus) e o Prêmio Grinzane-Cavour (Alba, Itália) 1987. No ano seguinte terminou seu relacionamento com a escritora Isabel de Nóbrega. Publicou ainda A Jangada de Pedra e A Segunda Vida de São Francisco de Assis. Um novo amor apareceria.
VENHO DE LONGE, LONGE, E CANTO SURDAMENTE
Venho de longe, longe, e canto surdamente
Esta velha, tão velha, canção de rimas tortas,
E dizes que a cantei a outra gente,
Que outras mãos me abriram outras portas:
Mas, amor, eu venho neste passo
E grito, da lonjura das estradas,
Da poeira mordida e do tremor
Das carnes maltratadas,
Esta nova canção com que renasço.
Por conta do livro O Ano da Morte de Ricardo Reis, a jornalista e tradutora espanhola Pilar de Rio vai para Lisboa conhecer Saramago, acabam se apaixonando e casam-se em 1988. Sobre ela escreveu: “Se tivesse morrido aos 63, antes de a conhecer, morreria muito mais velho do que quando serei quando chegar minha hora”. Em 1989, publica História do Cerco de Lisboa. Também pertenceu à primeira Direção da Associação Portuguesa de Escritores, e de 1985 a 1994, foi presidente da Assembléia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores, e ainda ficaria por um ano na presidência da Assembléia Municipal de Lisboa ao mesmo tempo da histórica coligação entre socialistas e comunistas que tinha como presidente da Câmara Jorge Sampaio. Amanhã, anos 90.
CARTA DE JOSÉ A JOSÉ
Eu te digo, José: por esta carta
Não garanto mentira nem verdade:
O que de mim não sei sempre me aparta
Da franqueza de ser e da vontade.
São cobiças inúteis, vãos desgostos,
São braços levantados e caídos,
São rugas que cortam os cem rostos
Da comédia e do jogo repetidos.
Desse lado da mesa, ou desse espelho,
Vais seguindo as palavras invertidas:
Assim verás melhor se, quanto, valho
Ao revés dos sinais e das medidas.
(Correm águas geladas no meu rio.
E roucos cantos de aves, derivando
Por silêncio frustrado e calafrio,
Vão manhã doutro dia recordando.)
Cai a chuva do céu, e não te molha,
Está a noite entre nós, e não te cega.
Não sorrias, José: à tua escolha
O que nos sobra de alma se me nega.
Desse lado da mesa, onde me acusas.
Te levantas. A marca do teu pé,
Na soleira da porta que recusas,
Fecha de vez a carta inacabada.
Tua sombra pisada, teu amigo — José.
Na década de 90, Saramago vai para o exílio em virtude do vergonhoso ato de censura do governo português chefiado por Cavaco Silva (!), pela mão do então subsecretário do Estado, Sousa Lara, que vetou a indicação de seu conhecido romance O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de 1991, ao Prêmio Literário Europeu, alegando ser “ofensivo aos católicos”. Saramago então vai viver com Pilar na ilha de Lanzarote na Espanha. Lá construiu uma casa onde gravou em azulejos num muro branco o nome “A Casa”, “resolvi baptizá-la assim, se calhar pela minha necessidade de espetar uma pequena bandeira portuguesa. Foi a afirmação da minha origem”.
A TI REGRESSO, MAR, AO GOSTO FORTE
A ti regresso, mar, ao gosto forte
Do sal que o vento traz à minha boca,
À tua claridade, a esta sorte
Que me foi dada de esquecer a morte
Sabendo embora como a vida é pouca.
A ti regresso, mar, corpo deitado,
Ao teu poder de paz e tempestade,
Ao teu clamor de deus acorrentado,
De terra feminina rodeado,
Prisioneiro da própria liberdade.
A ti regresso, mar, como quem sabe
Dessa tua lição tirar proveito.
E antes que esta vida se me acabe,
De toda a água que na terra cabe
Em vontade tornada, armado o peito.

O Evangelho Segundo Jesus Cristo recebeu o Grande Prêmio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, assim como vários e importantes prêmios, inclusive na Italia. Foi Doutor Honoris Causa pela Universidade de Turim e Sevilha e recebeu o título de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras na França. Em 1993 publicou outra peça de teatro, In Nomine Dei, e iniciou a escrita de um diário, Cadernos de Lanzarote. Saramago se tornou membro do Parlamento Internacional de Escritores em Estrasburgo. Os prêmios viriam mais e mais junto com o prestígio internacional, porém, o grau máximo viria alguns anos depois. Mediante a riqueza de sua biografia e a quantidade de poemas, estenderei o estudo por mais uma semana.
Entra aí camarada!   http://cartilhadepoesia.wordpress.com
JOGO DO LENÇO
Trago no bolso do peito
Um lenço de seda fina,
Dobrado de certo jeito.
Não sei quem tanto lhe ensina
Que quanto faz é bem feito.
Acena nas despedidas,
Quando a voz já lá não chega
Por distâncias desmedidas.
Depois, no bolso aconchega
As saudades permitidas.
Também o suor salgado,
Às vezes, enxugo a medo,
Que o lenço é mal empregado.
E quando me feri um dedo,
Com ele o trouxe ligado.
Nunca mais chegava ao fim
Se as graças todas dissesse
Deste meu lenço e de mim,
Mas uma coisa acontece
De que não sei porque sim:
Quando os meus olhos molhados
Pedem auxílio do lenço,
São pedidos escusados.
E é bem por isso que penso
Que os meus olhos, se molhados,
Só se enxugam no teu lenço.
Em 1995, José Saramago publica seu famoso Ensaio sobre a Cegueira, e o segundo livro de Cadernos de Lanzarote. No mesmo ano ganho o Prêmio Camões, o mais importante prêmio português, e o Prémio de Consagração da Sociedade Portuguesa de Autores. Nos anos seguintes publicou mais um volume de Cadernos de Lanzarote, Todos os Nomes, e o belíssimo Conto da Ilha Desconhecida. A essa altura, Saramago é mais que reconhecido mundialmente, tendo recebido todos os prémio importantes portugueses, alguns italianos e uma condecoração francesa. Porém, faltava o prémio maior que um escritor pode almejar em sua carreira, se assim posso dizer.
CONTRACANTO
Aqui, longe do sol, que mais farei
Senão cantar o bafo que me aquece?
Como um prazer cansado que adormece
Ou preso conformado com a lei.
Mas neste débil canto há outra voz
Que tenta libertar-se da surdina,
Como rosa-cristal em funda mina
Ou promessa de pão que vem nas mós.
Outro sol mais aberto me dará
Aos acentos do canto outra harmonia,
E na sombra direi que se anuncia
A toalha de luz por onde vá.
Após o Prémio Nobel, sua vida fica muito mais movimentada, com viagens pelo mundo, palestras, recebe inúmeros títulos Doutor Honoris Causa. Através de uma iniciativa diplomática do Primeiro Ministro Durão Barroso, Saramago reconcilia-se com seu país, após suspensão do processo de censura. Após o evento, o mesmo Primeiro Ministro cria a Cátedra José Saramago na Universidade Autónoma do Mexico. Sua peças são encenadas sucessivamente, é criada uma biblioteca em sua casa de Lanzarote. Em 2007, é criada a Fundação José Saramago. Até então, desde 1998, Saramago publica Folhas Políticas; A Caverna, A Maior Flor do Mundo, O Homem Duplicado; Ensaio Sobre a Lucidez; Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido; As Intermitências da Morte e Pequenas Memórias.
SALMO 136
Nem por abandonadas se calavam
As harpas dos salgueiros penduradas.
Se os dedos dos hebreus as não tocavam,
O vento de Sião, nas cordas tensas,
A música da memória repetia.
Mas nesta Babilónia em que vivemos,
Na lembrança Sião e no futuro,
Até o vento calou a melodia.
Tão rasos consentimos nos pusessem,
Mais do que os corpos, as almas e as vontades,
Que nem sentimos já o ferro duro,
Se do que fomos deixarem as vaidades.
Têm os povos as músicas que merecem.



No dia 18 de dezembro de 2008, Saramago é internado por causa de uma pneumonia, que lhe causaria sérios danos à saúde. Meses mais tarde, é homenageado em Portugal com uma exposição sobre sua vida e obra. Em 14 de maio, em Cannes, estreia o filme Blindness, adaptação do livro Ensaio Sobre a Cegueira, realizada pelo diretor Fernando Meirelles, com elenco de peso. Saramago se emociona profundamente após ver o filme. Termina o livro Caderno de Elefante. Em outubro de 2009, publica seu último livro, Caim. Em dezembro, arranja forças e vai visitar Aminatu Haidar, defensora dos Direitos Humanos que fazia greve de fome após ter sua entrada impedida em Marrocos. Ainda realiza uma campanha para arrecadar fundos para as vítimas do terremoto no Haiti.
BALADA
Dei a volta ao continente
Sem sair deste lugar
Interroguei toda a gente
Como o cego ou o demente
Cuja sina é perguntar
Ninguém me soube dizer
Onde estavas e vivias
(Já cansados de esquecer
Só vivos para morrer
Perdiam a conta aos dias)
Puxei da minha viola
Na soleira me sentei
Com a gamela da esmola
Com pão duro na sacola
Desiludido cantei
Talvez dissesse romanças
Ou cantigas de encantar
Aprendidas nas andanças
Das poucas aventuranças
De quem não soube esperar
Andavam longe os teus passos
Nem as cantigas ouviste
Vivias presa nos laços
Que faziam outros braços
No teu corpo que despiste
Quanto tempo ali fiquei
Sangrando os dedos nas cordas
Quantos arrancos soltei
Nesta fome que criei
Nem eu sei nem tu recordas
Porque nunca tos contei
Até que um dia cansaste
(Era pó não era monte)
Outra lembrança deixaste
E nas águas desta fonte
A tua sede mataste
— O arco da minha ponte


No dia 18 de junho de 2010, José Saramago morre em sua casa em Lanzarote. Um avião da Força Aérea Portuguesa trouxe os restos mortais do escritor para Portugal, que foi velado na Câmara Municipal de Lisboa, e depois cremado no cemitério Alto de São João. Assim terminamos este estudo sobre a poesia do grande escritor. Dois livros, foi o que produziu em versos. Espero que tenham gostado de sua poesia, que tenha servido para alguma coisa, pois a poesia serve para quem precisa dela. No fim da vida, Saramago revela que “gostaria de ter escrito um livro chamado Livro do Desassossego, mas Fernando Pessoa antecipou-se. O meu desassossego não é o mesmo dele, mas o título convinha-me. Como não tive sossego, quero desassossegar os outros”. Semana que vem, RESTROSPECTIVA 2010.



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Mísia canta Saramago
http://www.youtube.com/watch?v=p0eGKGoY_hw&feature=share



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http://www.youtube.com/watch?v=A0QbD-zNv5E&feature=share
letra cantada por Pedro Barroso
Nasce Afrodite, amor, nasce o teu corpo
Ao princípio é nada
Um sopro apenas
Um arrepio de escamas
Um perpassar de sombra
Como de nuvem marinha
Que se esgarça nos radiais tentáculos da medusa
Não se dirá que o mar se comoveu
E que a onda vai formar-se deste frémito
No embalo da água oscilam peixes
E das algas as hastes serpentinas a correnteza dobram
Como ao vento
As searas da terra
E as crinas dos cavalos
Entre dois infinitos de azul
A onda vem
Toda de sol
Vestida e rebrilhante
Líquido corpo de reflexos
Cegos
Da terra o vento corre para ela
Tal o macho cioso
Para a fêmea aberta
Transportando consigo o pólen das flores
Fecundada a onda rola
Agora trovejando
Na corrida para o parto
Que a espera
No leito de negras rochas
Que na costa se adorna
De mil vidas fervilhantes
Mais alto ainda
As águas se suspendem
E no segundo final
A gestação imensa
E quando num furor
Da vida que começa
A onda se despedaça num rochedo
O envolve o cis
O despedaça
E dilacera
Da branca espuma
Do sol
Do vento que soprou
Dos peixes
Das flores
E do seu pólen
Das algas trémulas
Do trigo
Dos braços da medusa
Das crinas dos cavalos
Do mar da vida toda
Nasce Afrodite, amor
Nasce o teu corpo
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A vida ri-se das probabilidades e põe palavras onde imaginamos silêncios e súbitos regressos quando pensávamos que não nos voltaríamos a encontrar.
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"A vida, que parece uma linha reta, não o é. Construímos a nossa vida só nuns cinco por cento, o resto é feito pelos outros, porque vivemos com os outros e às vezes contra os outros. Mas essa pequena percentagem, esses cinco por cento, é o resultado da 
sinceridade consigo mesmo."
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5noVEMbro2012
 Globalizar o pão
Se amanhã me disserem que vão globalizar o pão não encontrareis globalizador mais entusiasta que eu. E se me disserem - e fazem-no - que vão globalizar tudo quanto milhares de milhões de seres humanos estão necessitando para viver dignamente, então asseguro-vos que me vereis convertido num seu fanático. Mas a globalização está a acrescentar miséria à miséria, fome à fome, exploração à exploração
https://www.facebook.com/234845926606634/photos/a.234859933271900.55198.234845926606634/366381673453058/?type=3&theater

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20out2009
José Saramago de novo polémico..."Caim" é o seu novo, pequeno, livro!!!
e até o PSD Mário David põe mais achas para a fogueira...
no público de 21.10.2009

O eurodeputado social-democrata Mário David exortou hoje o escritor José Saramago a renunciar à cidadania portuguesa por se sentir “envergonhado” com as recentes declarações do Nobel da Literatura sobre a Bíblia.
Daniel Rocha (arquivo)
Saramago criticou violentamente a Bíblia
No sítio pessoal na Internet, o vice-presidente do Partido Popular Europeu (PPE), eleito pelo PSD, escreveu: “Há uns anos, fez a ameaça de renunciar à cidadania portuguesa. Na altura, pensei quão ignóbil era esta atitude. Hoje, peço-lhe que a concretize... E depressa!”“Tenho vergonha de o ter como compatriota! Ou julga que, a coberto da liberdade de expressão, se lhe aceitam todas as imbecilidades e impropérios?”, questiona o eurodeputado.No sábado, José Saramago lançou o novo livro, “Caim”, e considerou a Bíblia “um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”.Na sequência destas afirmações, reagiram vários representantes da Igreja Católica e da comunidade judaica em Portugal, criticando Saramago e acusando-o de estar a fazer um golpe publicitário para promover o livro.“Se a outorga do Prémio Nobel o deslumbrou, não lhe confere a autoridade para vilipendiar povos e confissões religiosas, valores que certamente desconhece mas que definem as pessoas de bom carácter”, escreve ainda Mário David na Internet.Contactado pela agência Lusa, o eurodeputado disse que as afirmações “são pessoais e não representam o partido” porque foi eleito. “Não estou interessado em entrar em polémica”, afiançou, acrescentando que também não quer “contribuir para dar publicidade ao livro”.Questionado se já leu “Caim”, ironizou: “Não li, nem vou ler. Ou é obrigatório?”.“Esta posição é pessoal e vincula-me só a mim. Nem sequer sou católico praticante, mas tenho o direito à indignação”, justificou, acrescentando que se sentiu “violentado” pelas declarações do Nobel da Literatura sobre a Bíblia, que, na sua opinião, são “atentatórias da consciência e sentimentos dos outros”.
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http://www.youtube.com/watch?v=Vd3GBaZNtAw
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http://www.youtube.com/watch?v=vZ_SXcvq67w
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José Saramago
"Surpreende-me a frivolidade dos senhores da Igreja"
por JOÃO CÉU E SILVA, ROBERTO BESSA MOREIRA
Era impossível que novo romance passasse despercebido devido ao tema escolhido: Caim e a Bíblia. Ao continuar a sua interpretação bíblica, que o levou ao exílio após o veto ao 'Evangelho segundo Jesus Cristo', o Nobel volta a abanar a estrutura de um dos edifícios que mais o indispõe, o das religiões. As reacções explodiram quando quase ninguém leu 'Caim'
A Igreja Católica portuguesa reagiu em bloco ao novo romance de José Saramago, ainda o livro estava a ser posto à venda nas livrarias. Os primeiros comentários de uma polémica que está longe do seu auge, e das réplicas que decerto provocará, tiveram origem nas declarações que o Nobel efectuou domingo à noite em Penafiel, onde considerou que "sem a Bíblia seríamos outras pessoas. Provavelmente melhores". Depois, endureceu e afirmou: "Não percebo como é que a Bíblia se tornou um guia espiritual. Está cheia de horrores, incestos, traições, carnificinas." Referiu ainda que costuma chamar ao livro sagrado dos cristãos "um manual de maus costumes".
Para José Saramago, Caim "é uma espécie de insurreição em forma de livro", que pretende levar os leitores à reflexão: "Nós somos manipulados todos os dias. Temos de lutar contra isso. Que a leitura deste livro vos ajude a ver o outro lado." Um conselho do autor do já polémico Evangelho segundo Jesus Cristo, que, garante, não é contra Deus que escreve: "Até porque ele não existe. É contra as religiões." Porque não servem para aproximar as pessoas nem nunca serviram, explica.
As reacções a Caim serão bastantes e diversas e uma das primeiras foi observada no presidente da Câmara de Penafiel, antigo seminarista, que se manteve impávido, evitou a polémica e só disse: "Respeito as opiniões de cada um. Não me atreveria a criticar as suas convicções. Quanto às minhas, guardo-as para mim", disse Alberto Santos.
O escritor não foi apanhado de surpresa pelas reacções imediatas ao seu novo livro. Questionado pelo DN sobre a rapidez da resposta da Igreja, considerou: "O que me surpreende é a frivolidade dos senhores da Igreja. Não leram o livro e vieram logo, com insólita rapidez, derramar-se em opiniões e desqualificações, tanto da obra como do seu autor. Como falta de seriedade intelectual, não se poderia esperar pior. Compreendo que tenham de ganhar o seu pão, mas não é necessário rebaixarem--se a este ponto."
Em resposta à acusação de D. Manuel Clemente sobre a sua "ingenuidade confrangedora" sobre a Bíblia respondeu: "Abençoada ingenuidade que me permitiu ler o que lá está e não qualquer operação de prestidigitação, dessas em que a exegese é pródiga, forçando as palavras a dizerem apenas o que interessa à Igreja. Leio e falo sobre o que leio. Para mistificações não contem comigo."
Também não evitou comentar as afirmações do porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, que sugeriu "ser uma operação de publicidade" dizer mal da Bíblia:
"O padre Manuel Morujão já disse que a leitura de Caim não é uma das suas prioridades. Agradeça-se-lhe a franqueza. Estranha coisa, porém, é um porta-voz que não sabe de que está a falar."
Inquirido ainda sobre se este regresso a um tema religioso denotava uma fixação, José Saramago foi claro: "É um motivo de reflexão, não uma fixação." Depois de ter escrito sobre a Bíblia, só faltava saber se pretende futuramente escrever sobre o Alcorão, ao que respondeu: "Não está nas minhas intenções, mas nunca se sabe."
Uma coisa é certa, pela quantidade de autógrafos dados em Penafiel, Caim não vai cair no esquecimento dos fiéis de Saramago.
respiguei de:
http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1395576&seccao=Livros
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http://diario.iol.pt/sociedade/saramago-biblia-deus-corao-tvi24-ultimas-noticias/1096600-4071.html
José Saramago afirmou este domingo, (18 out 2009) em Penafiel, que «a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana». «Sobre o livro sagrado, eu costumo dizer: lê a Bíblia e perde a fé!», disse o escritor, numa entrevista concedida à Lusa, a propósito do lançamento mundial do seu novo livro, intitulado «Caim», que ocorre naquela cidade.
«A Bíblia passou mil anos, dezenas de gerações, a ser escrita, mas sempre sob a dominante de um Deus cruel, invejoso e insuportável. É uma loucura!», afirma o Nobel da Literatura de 1998, para quem não existe nada de divino na Bíblia, nem no Corão.
«O Corão, que foi escrito só em 30 anos, é a mesma coisa. Imaginar que o Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!» afirmou.
«Todo esse horror em nome de um Deus que não existe, nunca ninguém o viu»
Saramago sublinhou que «as guerras de religião estão na História, sabemos a tragédia que foram». Considerou que as Cruzadas são um crime do Cristianismo, morreram milhares e milhares de pessoas, culpados e inocentes, ao abrigo da palavra de ordem 'Deus o quer', tal como acontece hoje com a Jihad (Guerra Santa).
Saramago lamenta que todo esse «horror» tenha feito em nome de «um Deus que não existe, nunca ninguém o viu». «O teólogo Hans Kung disse sobre isto uma frase que considero definitiva, que as religiões nunca serviram para aproximar os seres humanos uns dos outros. Só isto basta para acabar com isso de Deus», afirmou.
«Deus criou o Universo em seis dias e nunca mais fez nada»
Salientou ainda que «no Catolicismo os pecados são castigados com o Inferno eterno. Isto é completamente idiota!». «Nós, os humanos somos muito mais misericordiosos. Quando alguém comete um delito vai cinco, dez ou 15 anos para a prisão e depois é reintegrado na sociedade, se quer», disse.
«Mas há coisas muito mais idiotas, por exemplo: antes, na criação do Universo, Deus não fez nada. Depois, decidiu criar o Universo, não se sabe porquê, nem para quê. Fê-lo em seis dias, apenas seis dias. Descansou ao sétimo. Até hoje! Nunca mais fez nada! Isto tem algum sentido?», perguntou.
Para José Saramago, «Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca».
«Um exercício de liberdade»
José Saramago afirmou que escrever o seu novo livro, «Caim», constituiu, para si, «um exercício de liberdade».
«Não é que este livro seja mal comportado, mas é, sem dúvida uma insurreição, um apelo a que todos se animem a procurar ver o que está do outro lado das coisas», disse.
O Prémio Nobel da Literatura de 1998, com 86 anos, falou cerca de uma hora e um quarto, e referia-se ao tema principal do livro, em que regressa à questão religiosa, contando, em tom irónico e jocoso, a história de Caim.
Segundo o Velho Testamento, Caim terá sido o filho primogénito de Adão e Eva, que matou Abel, seu irmão mais novo, num acesso de ciúmes, após verificar que Deus mostrara preferência por este.
«Nada disto existiu, está claro, são mitos inventados pelos homens, tal como Deus é uma criação dos homens. Eu limito-me a levantar as pedras e a mostrar esta realidade escondida atrás delas», afirmou o escritor.
O lançamento do livro foi o último acto da presença de Saramago em Penafiel, onde está desde a manhã de sexta-feira, para participar na segunda edição do ESCRITARIA, que se iniciou na quinta-feira.
e mais este texto da Pilar del Rio...
Caros amigos,
Saramago escreveu outro livro. O seu título é “Caim”, e Caim é um dos protagonistas principais. Outro é Deus, outro ainda é a humanidade nas suas diferentes expressões. Neste livro, tal como nos anteriores, “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, por exemplo, o autor não recua diante de nada nem procura subterfúgios no momento de abordar o que, durante milénios, em todas as culturas e civilizações foi considerado intocável e não nomeável: a divindade e o conjunto de normas e preceitos que os homens estabelecem em torno a essa figura para exigir a si mesmos – ou talvez seria melhor dizer para exigir a outros- uma fé inquebrantável e absoluta, em que tudo se justifica, desde negar-se a si mesmo até à extenuação, ou morrer oferecido em sacrifício, ou matar em nome de Deus.
“Caim” não é um tratado de teologia, nem um ensaio, nem um ajuste de contas: é uma ficção em que Saramago põe à prova a sua capacidade narrativa ao contar, no seu peculiar estilo, uma história de que todos conhecemos a música e alguns fragmentos da letra. Pois bem, com a cabeça alta, que é como há que enfrentar o poder, sem medos nem respeitos excessivos, José Saramago escreveu um livro que não nos vai deixar indiferentes, que provocará nos leitores desconcerto e talvez alguma angústia, porém, amigos, a grande literatura está aí para cravar-se em nós como um punhal na barriga, não para nos adormecer como se estivéssemos num opiário e o mundo fosse pura fantasia. Este livro agarra-nos, digo-o porque o li, sacode-nos, faz-nos pensar: aposto que quando o terminardes, quando fizerdes o gesto de o fechar sobre os joelhos, olhareis o infinito, ou cada qual o seu próprio interior, soltareis um uff que vos sairá da alma, e então uma boa reflexão pessoal começará, a que mais tarde se seguirão conversas, discussões, posicionamentos e, em muitos casos, cartas dizendo que essas ideais andavam a pedir forma, que já era hora de que o escritor se pusesse ao trabalho, e graças lhe damos por fazê-lo com tão admiráveis resultados.
Este último romance de José Saramago, que não é muito extenso, nem poderia sê-lo porque necessitaríamos mais fôlego que o que temos para enfrentar-nos a ele, é literatura em estado puro. Dentro de pouco tempo podereis lê-lo em português, castelhano e catalão, e então vereis que não exagero, que não me move nenhum desordenado desejo ao recomendá-lo: faço-o com a mais absoluta subjectividade, porque com subjectividade lemos e vivemos. E falo aos amigos, porque esta carta apenas a eles vai dirigida. Com muita alegria.
Felicidades a todos os leitores: um ano depois de A Viagem do elefante temos outro Saramago. São três livros em um ano, porque também há que contar com o Caderno, o livro que vamos lendo aqui em cada dia. Não podemos pedir mais, o nosso homem cumpriu, e de que maneira. A idade, amigos, aguça a inteligência e agiliza a capacidade de trabalho. Que sorte a nossa, leitores, de ter quem nos escreva.

curioso video em que...
José Saramago fala sobre o pecado, Deus, Igreja e Bíblia
http://www.youtube.com/watch?v=QuHARSJW9Ys&feature=related
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e a postagem de 25 out 2009 no cheira-me a revolução
Confesso que nem sempre estou de acordo com declarações até mesmo a nível político, feitas pelo meu camarada José Saramago, porém, não poderia estar mais de acordo com as considerações que teceu na conferência de imprensa, referentes ao Deus descrito no Pentateuco, ou seja nos primeiros 5 livros da Bíblia.Os estudos bíblicos que em tempos fiz, os conhecimentos que depois, ao longo da vida fui adquirindo, levam-me de facto a concluir que, das duas uma ou Deus não tinha nada que fazer naquela semana em que criou o mundo e criou o homem para poder ter algo com que brincar, ou estava cansado de estar sozinho o que não deve ser nada agradável.Vejamos então só duas ou três descrições bíblicas:Logo no capítulo 2 versos 17 do livro de Génesis, é referido que Deus proibiu o homem de comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, e ameaçou “…porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.”Até aqui todo o relato do livro é sobre a criação divina, referindo a cada passo dessa mesma criação: “E viu Deus que era bom.”Ora aqui uma pergunta me baila na cabeça: Teria Deus, receio que o homem ao ter os conhecimentos que o fruto da árvore (e em local nenhum refere que era maçã isso já é invenção posterior) mas dizia eu, haveria algum receio de que o homem ficasse com os mesmos conhecimentos científicos que o seu criador?Espanta-me então que a ameaça de morte por comer daquele fruto, se tenha ficado depois, somente pelo reconhecimento de que estavam nus.Deus afinal mentiu e a serpente (a tal da tentação e que geralmente se associa ao demónio) que garantiu ao homem que ao comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, nem o homem nem a mulher morreriam foi quem falou verdade.Mais tarde já com Abel e Caim a trabalhar, um a terra outro no pastoreio e querendo ambos agradar ao Senhor, fizeram-lhe oferendas do produto do seu trabalho. Abel ofereceu um animal e Caim o produto da terra. Deus agradou-se da oferta de Abel mas não da de Caim, versículos 4 e 5 do capítulo 4 do livro de Génesis “E atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente e descaiu-lhe o semblante”Deste episódio resultou a morte de Abel, o primeiro assassinato da história da humanidade provocado pela injustiça, na dualidade de aceitação do esforço do trabalho.
Caim que se esforçou por trabalhar a terra semeando, regando e cuidando das plantas, viu-se preterido por Abel, que se limitou a guardar as ovelhas.Ao longo de toda a história Bíblica, em especial no Velho Testamento, temos relatos de proibições, castigos e injustiças, nas quais não vemos um Deus pai, mas um Deus carrasco para quem não cumpra a Sua vontade, isto apesar de ter dado ao homem o livre arbítrio.O resultado foi a onda de corrupção e violência (que continua até aos nossos dias sem melhoras) não obstante as várias catástrofes lançadas sobre a terra, ele foi o dilúvio, ele foi a confusão das línguas, ele foi a destruição pelo fogo, etc. etc. etc.
Entretanto a humanidade permaneceu, assim como a mentira e as guerras que levam à morte. E já agora atentemos nesta verdade permaneceram até hoje a pouca aceitação e reconhecimento do esforço do trabalho!Aconselho a leitura deste livro, que apenas peca por se ler num ápice, quanto a mim e como é meu hábito, a ele voltarei dentro de algum tempo para uma segunda leitura.
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saiu no Público de 26 out 2009
Os comentários de Saramago não são nem chocantes nem novos, defende neste texto o escritorRichard Zimler. São unicamente banalidades superficiais
Quando José Saramago decidiu espevitar o interesse pelo seu último livro afirmando que "a Bíblia é um manual de maus costumes", a minha primeira reacção - como escritor e como alguém de há muito tempo dedicado aos estudos de religião comparada - foi rir-me para comigo e murmurar "e depois?".
São várias e de ordem vária as razões por que desvalorizei os comentários de Saramago. O Antigo Testamento, praticamente na sua totalidade, nunca teve como propósito constituir qualquer coisa de parecido com um manual de boas ou más maneiras. Ao ler a Bíblia, pouco que seja, ninguém pretende encontrar um modelo para o seu comportamento nos actos do Rei David, de Betsabé, de Noé, de Adão, de Eva ou de quaisquer outras pessoas referidas nas histórias bíblicas. Na tradição judaica, tal atitude pura e simplesmente nunca existiu. Nem o mais ortodoxo dos rabinos obedece hoje à maioria das regras de conduta doDeuteronómio, mais que não fosse por estarem de tal modo datadas que seriam irrelevantes para a vida dos nossos dias. Assim como ninguém no mundo judeu modela o seu comportamento pelo de Deus. Fazê-lo seria considerado ingénuo na melhor das hipóteses ou herético na pior. O Antigo Testamento é formado em grande parte por uma compilação de histórias, muito à semelhança de um romance. E o seu tema principal é a difícil e por vezes tumultuosa relação entre Deus e Israel, entre o criador transcendente de um universo e o seu povo escolhido. É uma história de sobrevivência, de como os israelitas usaram de todos os meios à sua disposição - incluindo a guerra - para defender aquilo que consideravam a sua particular aliança com o Senhor. Como qualquer romance ou outra forma de narrativa que intente descrever todos os cambiantes da conduta humana, dela fazem parte tanto a opressão intolerável, os crimes de guerra e os assassinatos, como também o amor, a dedicação e o heroísmo. Trata de seres humanos tal como eles são, e não como eles deveriam ser. Pegar no Antigo Testamento para criticar a brutalidade dos hebreus ou de outros povos da antiguidade é o mesmo que criticar Dostoievsky por escrever sobre um assassinato premeditado emCrime e Castigo ou criticar Anne Frank por descrever como a crueldade nazi afectou a sua família.
Inclinava-me a pensar que qualquer escritor haveria de olhar como vital, tanto para ficcionistas como para ensaístas, a exploração de toda a gama das emoções e acções humanas, mas ao que parece enganava-me, pelo menos no caso particular de Saramago.
Confesso que as palavras de Saramago me deixaram perplexo de um modo muito pessoal ao implicarem que não deveríamos escrever sobre os horrendos crimes cometidos por seres humanos, pois uma boa parte do que faço nos meus romances é explorar as vidas de pessoas cujas vozes têm sido sistematicamente silenciadas por ditadores, generais e inquisidores religiosos. Penso que escrever sobre a repressão violenta e sobre os tratamentos cruéis é essencial, sobretudo quando se busca a criação de um mundo de mais justiça e humanidade. E uma das coisas que mais respeito e valorizo no Antigo Testamento - apesar de não crer num Deus pessoal e de não praticar nenhuma forma de fé, nem sequer a religião dos meus pais, o judaísmo - é o facto de aí nada ser escamoteado ou escondido. Quem quer que deseje conhecer até onde pode chegar a abominação e a crueldade humanas e até que ponto Deus - ou o Destino - pode ser impiedoso bastar-lhe-á abrir o Antigo Testamento. Para quem nunca o fez, sugeriria que lessem o tratamento dado pelo Rei David a Urias, narrado no Segundo Livro de Samuel. Será difícil encontrar descrição mais poderosa da traição e da brutalidade humanas.
Por outro lado, considerei que no fundo não valia a pena dar importância aos comentários de Saramago, pela ingenuidade e infantilidade da interpretação literal que ele (juntamente com os fundamentalistas religiosos) faz das histórias do Antigo Testamento. Uma das mais importantes lições que retirei do estudo da história das religiões e da mitologia é que as narrativas mitológicas são - na sua maior parte - poesia e não prosa. A história de Adão e Eva é poesia. Ou será que haverá alguém que acredite que Eva foi feita de uma costela de Adão? O autor desta narrativa do Antigo Testamento está a recorrer a uma linguagem simbólica - tal como poetas muito posteriores, como Shakespeare ou Camões, recorreram à linguagem simbólica para criarem as suas obras-primas. Ou será que algum leitor de Os Lusíadas pensa que os navegadores portugueses depararam com um temível gigante chamado Adamastor nas suas viagens da época das Descobertas? Ou, quando a narrativa bíblica conta que Moisés separou as águas do Mar Vermelho no Livro do Êxodo para que o seu povo pudesse fugir do Egipto, será que alguém com mais de dez anos acredita que ele possa ter murmurado algum abracadabra hebraico e produzido tal milagre? Espero bem que não. O Antigo Testamento pode ter como referência um acontecimento histórico - a libertação do povo hebraico -, mas a linguagem utilizada é poética e simbólica. Por assim ser, está aberto a diferentes interpretações. Pode acontecer que o que aqui se pretende é falar da viagem espiritual que cada um de nós pode fazer ao longo das nossas vidas, da escravidão para a liberdade. Nesse caso, a história de Moisés será sobre a nossa aspiração - como indivíduos e como povo - à segurança, a uma vida realizada e com sentido.
Tomar à letra estas histórias é simplesmente não entender o Antigo Testamento e ignorar por completo dois mil anos da tradição poética ocidental.
As palavras de Saramago pareceram-me ainda como o "much ado about nothing", o muito barulho para nada, com que soa qualquer coisa que nem remotamente é novidade. Há cerca de dois mil anos que os filósofos judeus vêm debatendo a brutalidade de Deus e da humanidade no Antigo Testamento, em tons bastante mais emocionados do que os usados no debate em causa. Talvez a história mais criticada do Antigo Testamento seja narrada no livro deJob. Depois de um Satanás céptico dizer a Deus que a piedade de Job se deve apenas à prosperidade de que goza, Deus põe à prova a fé e a dedicação de Job arruinando-lhe a vida da forma mais horrível. Podemos encontrar comentários sobre a interpretação a dar a esta história - assim como de qualquer outra história bíblica - em centenas de livros escritos por filósofos judeus - e também alguns cristãos - ao longo dos últimos dois mil anos. Como é possível que alguém que se considera instruído não tenha consciência desta herança cultural?
As primeiras obras escritas analisando a natureza de Deus, tal como é descrita no Antigo Testamento, são o Talmude, um compêndio dos textos rabínicos sobre ética e cultura compilados entre os anos 200 e 500 da era cristã. Mais tarde, na época medieval, o tema da natureza de Deus foi explorado por dezenas de talentosos filósofos medievais, incluindo pensadores magníficos como Maimónides e Moisés de Leão, autor do século XIII, que escreveu o livro mais influente do misticismo judaico, oZohar. Mais recentemente, estudiosos como Walter Benjamin e Martin Buber acrescentaram facetas modernas ao debate. A natureza da relação de Deus com o homem - a Sua crueldade e, em particular, a Sua "surdez" face ao sofrimento humano - tornou-se num dos mais importantes tópicos de discussão no mundo judaico desde o Holocausto, pelo mais óbvio e terrível dos motivos. Simultaneamente, este debate filosófico foi sendo reflectido na literatura judaica desde os meados do século XIX, na obra de muitos escritores, de Sholem Aleichem e Shmuel Yosef Agnon - que recebeu o Prémio Nobel em 1966 - a Philip Roth.
Concluindo, custa-me compreender como é que alguém, ainda que vagamente familiarizado com a filosofia e a literatura ocidentais, pode acreditar que erguer-se em 2009 contra a crueldade contida no Antigo Testamento tem alguma coisa de novo ou de chocante. Ou sequer interessante.
O que é interessante é perguntarmo-nos por que razão exige Deus uma tão absoluta fidelidade aos israelitas e os castiga tão brutalmente por Lhe desobedecerem. Por que são outros povos, como os cananitas, olhados com tanto desprezo. O que diz tudo isto sobre as condições políticas e sociais em Israel em 500 a.C. E o que diz a relação de Deus com Israel sobre a "natureza tribal" das religiões da antiguidade.
Estes, sim, são temas importantes a merecer respostas sérias dos estudiosos.
Mas, naturalmente, nada disto mereceu a atenção de Saramago nem dos que reagiram às suas críticas ao Antigo Testamento. O que me traz ao aspecto mais perturbador e alarmante de toda esta tola controvérsia. Os jornalistas e os responsáveis religiosos portugueses de um modo geral trataram os comentários de Saramago como importantes! Graças a eles, os meios de comunicação deram-lhe mais tempo na televisão e mais espaço nos jornais do que a outras questões muito mais importantes. E alguns representantes da Igreja Católica atacaram-no com uma ferocidade emocional que revela bem que consideram tais opiniões sobre o Antigo Testamento como um obstáculo à fé. Mais uma vez, tal como salientei mais atrás, os comentários de Saramago não são nem chocantes nem novos. E apenas representam um obstáculo à fé para quem não tenha a menor ideia do que é e do que pretendia ser o Antigo Testamento. As críticas de Saramago são unicamente banalidades superficiais, que revelam uma profunda ignorância da filosofia e da religião ocidentais e uma total incompreensão da linguagem poética e narrativa de desde há mais de três mil anos. Só quem ignora tal herança, jornalistas e responsáveis religiosos incluídos, poderia tornar o patético desabafo do romancista numa tal polémica. E, para mim, essa foi a parte mais desanimadora e mais perturbante de toda esta "inventada" notícia: descobrir que na sociedade onde vivemos, entre os seus membros mais ilustres e cultivados, possa prolongar-se tão lastimosa ignorância de uma parte importantíssima do legado civilizacional da filosofia e da cultura ocidentais.
Tradução de José Lima
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18 de Junho de 2010: Morre o escritor José Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998.

Escritor português, José Saramago nasceu a 16 de novembro de 1922, em Azinhaga, no concelho da Golegã e faleceu a 18 de junho de 2010, na ilha espanhola de Lanzarote. Ficcionista, cronista, poeta e autor dramático, coube-lhe a honra de ser o primeiro autor português distinguido com o Prémio Nobel da Literatura, em 1998, consagrando, no seu nome, o prestígio das letras portuguesas contemporâneas além-fronteiras. Atribuição tanto mais meritória quanto a sua existência encontrou sempre condições adversas à satisfação da sua sede de cultura, ao longo de um percurso biográfico pejado de obstáculos.

Oriundo de uma família humilde, José Saramago não pôde, por dificuldades económicas, prolongar os estudos liceais; depois de obter o curso de serralheiro mecânico, desempenhou simples funções burocráticas e conheceu, em 1975, o desemprego - que não o impediria, porém, nem de manter uma postura cívica exemplar, marcada pelo empenhamento político ativo, antes e após o regime salazarista, nem de, graças a um trabalho de autodidata, adquirir um saber literário, cultural, filosófico e histórico incomparável, nem de se tornar um dos raros escritores profissionais portugueses.

Figura de primeiro plano da literatura contemporânea nacional e internacional, a sua obra encontra-se traduzida em diversas línguas, sendo objeto de vários estudos académicos. Revelou-se como poeta com a coletânea Os Poemas Possíveis (1966), a que se seguiria Provavelmente Alegria (1970), desenvolvendo, simultaneamente, uma longa experiência como cronista, coligida nos volumes Deste Mundo e do Outro (1971), A Bagagem do Viajante (1973), As Opiniões Que o D. L. Teve (1974) e Os Apontamentos (1976). Destes dois registos fez o campo de ensaio, para, com 44 anos, encetar uma amadurecida carreira de romancista, que deixaria para trás experiências ficcionais ainda não suficientemente reveladoras, como Terra de Pecado, de 1947.

Manual de Pintura e de Caligrafia e Levantado do Chão são os dois primeiros títulos de uma atividade romanesca que, concebida como registo privilegiado para uma interrogação sobre a relação entre o homem e a História, entre o individual e o coletivo, entre o escritor e a sociedade, nos anos 80, conhece um sucesso fulgurante, junto do grande público e da crítica especializada. É durante esta década que publica os títulos que o celebrizaram, como Memorial do Convento (1982), O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984) ou A Jangada de Pedra (1986), e onde problematiza, de forma imaginativa e humorada, numa dinâmica narrativa livre (sem constrições, seja ao nível da expressão linguística, marcada, do ponto de vista formal, por uma estratégia de integração, sem marcas gráficas, do discurso dialogal das personagens e do narrador no fluxo contínuo do texto; seja ao nível da efabulação de personagens ou do tempo), as modalidades de ficcionalização do tempo histórico, quer remetido para um passado revisto a partir da atenção conferida às histórias reais ou sonhadas dos seres anónimos que construíram a História (Memorial do Convento, O Ano da Morte de Ricardo Reis), quer concebida como crónica de um futuro virtual que, sob a sua forma alegórica, não deixa de refletir uma inquietação sobre o presente (A Jangada de Pedra).

Posteriormente publicou outras obras, de entre as quais merecem menção História do Cerco de Lisboa (1989), O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1992), Ensaio sobre a Cegueira (1996), Todos os Nomes (1997), A Caverna (1999), Ensaio sobre a Lucidez (2004), As Intermitências da Morte (2005), As Pequenas Memórias (2006) e A Viagem do Elefante (2008) . A bibliografia de José Saramago abrange ainda textos teatrais (Que Farei Com este Livro, A Segunda Vida de São Francisco, In Nomine Dei, Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido), o registo diarístico encetado com a edição de Cadernos de Lanzarote e ainda uma breve incursão à literatura infanto-juvenil com A Maior Flor do Mundo, de 2001, livro escrito em parceria com o ilustrador João Caetano, que acabou por receber o Prémio Nacional de Ilustração atribuído nesse ano. Em 2008, Saramago viu o seu best-seller Ensaio sobre a Cegueira ser adaptado para o cinema, pela mão do realizador brasileiro Fernando Meirelles.

José Saramago, comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada desde 1985 e cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas desde 1991,recebeu ao longo da sua carreira numerosas distinções. Para além do prémio Nobel, foi galardoado, entre outros, com: o Prémio Bordalo de Literatura da Casa da Imprensa, em 1991; o Grande Prémio Vida Literária, atribuído pela APE, em 1993; o Prémio Camões, em 1995; e o Prémio de Consagração de Carreira, da Sociedade Portuguesa de Autores, em 1995. Em 1999 foi doutorado Honoris Causa pela Universidade de Nottingham, em Inglaterra; em 2000 pela Universidade de Santiago, no Chile; e, em 2004, pela Universidade de Coimbra, em Portugal, e pela Universidade de Charles de Gaulle-Lille III, em França.
José Saramago. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia (Imagens)

File:JSJoseSaramago.jpg

File:Saramago by bottelho.jpg

José Saramago por Carlos Botelho
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/06/18-de-junho-de-2010-morre-o-escritor.html?spref=fb&fbclid=IwAR1mMmC3vNFk_S2NuDyLPotEujfdQfZ-LQCf8Q_TCBh8vgWTj8WSPkA9rqQ
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16 de Novembro de 1922: Nasce José Saramago

 https://www.youtube.com/watch?v=TGgC7C2wI-g&feature=youtu.be&fbclid=IwAR2-gDpGPCiEqvxECs1J5KIFgJsLrB0c3jm_z94tIn1M1bQGjtwI2hTHsNM
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https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/11/16-de-novembro-de-1922-nasce-jose.html?fbclid=IwAR3qAd158GcK8q2amKW7dsRg1QoJ9k3qXnXHjy_b--uOCZaMybgqNQuU3eY
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via citador:
IntimidadeNo coração da mina mais secreta, 
No interior do fruto mais distante, 
Na vibração da nota mais discreta, 
No búzio mais convolto e ressoante, 

Na camada mais densa da pintura, 
Na veia que no corpo mais nos sonde, 
Na palavra que diga mais brandura, 
Na raiz que mais desce, mais esconde, 

No silêncio mais fundo desta pausa, 
Em que a vida se fez perenidade, 
Procuro a tua mão, decifro a causa 
De querer e não crer, final, intimidade. 

in "Os Poemas Possíveis"